Revista Rua


De "garganta do diabo" para "ponte sobre o vale do menino Deus": reflexões acerca das práticas sociais e dos modos de designar o espaço público
From "Devil's Throat" to the "Bridge over The God Boy Valley": Reflections about the social practices and the ways to designate the public space

Verli Petri

A segunda imagem, por sua vez, apresenta um olhar mais aproximado, já revelando a atmosfera primaveril, no qual a cor das flores modifica a paisagem, mas não desvia a lente do fotógrafo da grandiosidade do monumento construído pelo homem, da ponte, da ligação, do elo que une, mas que também desafia cada um de modo diferente.
Fonte:http://4.bp.blogspot.com/_bR6drzv2wf8/SppFAlSFU_I/AAAAAAAABRQ/JmNdxW3_7go/s1600-h/ponte5.jpg, acesso em 23 de março de 2010.
 
O que fica é a imagem. A imagem do viaduto, da natureza local, do cartão postal. Imagem que pode ser fixada em uma fotografia. Imagem que pode ser a primeira de quem chega à cidade, mas pode ser captada e fixada por aquele que olha da cidade para fora. Da cidade para a cidade, já que agora esta é parte do urbano. Esta imagem pode ser também a última, por que não, a imagem que os suicidas levam na retina... Então, a imagem vai funcionar como “um operador de memória social” (PÊCHEUX, 1999: 51), às vezes remetendo ao belo, outras vezes remetendo aos sentidos interditados, já que há um sigilo oficial[5] que evita a divulgação de números de suicídios, e que protege os nomes dos suicidas. O espaço vazio, desconhecido, não fotografado, não é e não pode ser mostrado, é da ordem da interdição... o espaço do vale sob a ponte é interditado: primeiro, por ser um


[5] Os suicídios em geral são investigados pela polícia, mas tramitam e são instruídos em segredo de justiça, preservando a vítima e familiares. Agradeço a Carolina Lisowsky pela precisão desta definição da área do Direito.