Revista Rua


Da parede ao corpo social: a carne que não satisfaz
From the Wall to the Social Body: the Meat Doesn't Satisfy

Gesualda dos Santos Rasia

mais acirradas, entre elas, aquelas que alçam à condição de infração o consumo de carne[6]. E, para além da questão da saúde, entre os defensores do vegetarianismo, há a parcela dos que se respaldam em questões ambientais, econômicas e sociais, o que nos leva a pensar em uma segunda posição-sujeito, na qual essas três variáveis encontram-se intrincadas. A pecuária implica, de um lado, conseqüências de ordem ecológica, dado que resulta na destruição de ecossistemas, na perda da biodiversidade, na erosão do solo, na desertificação, na escassez de água, na contaminação do solo e da água e no efeito estufa. Com relação às conseqüências econômico-sociais, estudos apontados por Greif[7] dão conta de que é ela responsável pela fome, por conflitos sociais e por guerras por territórios. A relação fome-produção de carnes embasa-se no argumento de que a pecuária implica um uso ineficiente dos grãos, dado que para produzir 1kg de carne são necessários 8kg de grãos. Os mesmos grãos seriam, então aproveitados de modo mais racional se destinados diretamente aos humanos, de cujo contingente global, 1/6 passa fome. Desses, 46 milhões de brasileiros.[8]
Há, ainda, uma terceira posição-sujeito, representativa dos defensores dos direitos dos animais, argumentando que as técnicas de abate são, muitas vezes, agressivas ou, ainda, que não se destinam exclusivamente a beneficiar o homem. Essa posição apresenta argumentos que podem respaldar, sob alguns aspectos, a posição dos defensores do vegetarianismo, mas não necessariamente abriga-se sob o mesmo discurso. Lembremos, aqui, do anteriormente pautado, a partir de Cazarin (2005), acerca da heterogeneidade da posição-sujeito.
Na perspectiva dessa posição, o E1 aciona o pré-construído “violência é crime”, resultado da interdiscursividade produzida em outra instância Neste caso, o enquadramento do ato de comer carne na esfera criminal  ganha mais força, embora não esteja juridicamente estabelecido. Lembramos aqui que o enunciado “Violência é crime” quase não aparece mais nos discursos sobre as problemáticas sociais, devido,


[6] Veja-se, por exemplo, o site Veganpride.com, o qual disponibiliza para venda adesivos com a inscrição “Carne é crime”.
[7] Disponível em http://www.svb.org.br/depmeioambiente/pdfs/Meioambiente.pdf. , acesso em 17/03/2010.
[8] Dados do IBGE de 2006, disponível em http://www.svb.org.br/depmeioambiente/pdfs/Meioambiente.pdf. , acesso em 15 de fevereiro de 2010.