Revista Rua


Do Repetível ao Historicizado: Notas Sobre uma Prática de Sentidos
(From the Repeatable to the Historicized: Notes About a Practice Of Senses)

Rejane Maria Arce Vargas

discursivos em relação na constituição do discurso na comunidade. Nesta perspectiva, também foi objeto de nossa atenção um outro subgrupo temático, os textos dos 15 anos. Em número de 40, eles dão corpo à trajetória da ocupação pela voz de sujeitos do lugar, crianças que participaram dessa história ou estiveram muito próximas a sua constituição. Esses textos foram produzidos por ocasião da semana de comemoração do 15º ano de ocupação da Fazenda Santa Marta, em 07 de dezembro de 2006, dia em que as primeiras famílias adentraram a fazenda, em 1991.
Consideradas essas materialidades, e a partir de recortes, empreendemos análises levando em conta especialmente as relações entre saberes discursivos entretecidos no processo de subjetivação respeitante a sujeitos que são instados a se identificarem com discursos notadamente atrelados à mobilização social.
 
TRAJETO E DEVIR: TEXTOS-PONTE
 
Os textos-ponte inserem-se no conjunto de atividades integrantes de projeto intitulado “Jovens: interesses e relações”. Os textos foram escritos na oportunidade da semana do estudante (ano de 2006), tendo como mote a música “Vamos fazer um filme”, da Banda Legião Urbana[10]. A fim de impulsionar o diálogo e desencadear o processo de escritura dos textos, foram lançadas as seguintes formulações[11]:
“A semana do estudante propõe-se a trabalhar a partir do protagonismo estudantil, para que o(a) jovem assuma o compromisso de construir a educação e a sociedade que tanto quer e sonha a partir de seu chão, que é a escola” (Revista Mundo Jovem, jul/06). Na nossa escola, isso já acontece? De que forma? Você lembra de alguma ação que os alunos da nossa escola protagonizaram em busca de benefícios para a sua comunidade?
 
Levando em conta o ‘termômetro’ que estabelecemos para o procedimento de análise, isto é, dizeres atrelados à ‘mobilização social’ (reivindicação, afirmação identitária, protesto, reclamação etc.), do conjunto de 30 textos, os textos-ponte[12], recortamos 8 seqüências discursivas (SDs) em que damos visibilidade a nomes,


[10] Trecho da composição de Renato Russo: “Achei um 3x4 teu e não quis acreditar/ Que tinha sido há tanto tempo atrás/ Um bom exemplo de bondade e respeito/ Do que o verdadeiro amor é capaz/ A minha escola não tem personagem/ A minha escola tem gente de verdade/ Alguém falou do fim-do-mundo,/ O fim-do-mundo já passou/ Vamos começar de novo:/ Um por todos, todos por um/ O sistema é mau, mas minha turma é legal/ Viver é foda, morrer é difícil/ Te ver é uma necessidade/ Vamos fazer um filme...”
[11] Informações extraídas do Plano de Aula da professora da turma.
[12] Para esses recortes, adotamos o seguinte modo de apresentação: sublinhado – verbos de ação; realce cinza – nomeações, realce cinza e negrito - designações ‘ponte’ e ‘comunidade’; negrito - para as formas pronominais e nominais que marcam a relação eu/nós.