Revista Rua


Do Repetível ao Historicizado: Notas Sobre uma Prática de Sentidos
(From the Repeatable to the Historicized: Notes About a Practice Of Senses)

Rejane Maria Arce Vargas

pelo verbo (sem flexão). O enunciado articula todo o processo de ação e é por meio dela que a comunidade toma corpo, pela práxis que deixa em suspenso um lugar a ser ocupado por toda e qualquer pessoa, por ‘todos’. O modo de ‘habitar’ este espaço configura um devir (cf. LEWKOWICZ et al., 2003), este que é, sem dúvida, vivido/praticado em singularidade, conforme procuramos demonstrar em nosso estudo, ao qual nos reportamos, em parte, aqui.
O objeto de nosso estudo, em especial no que tange à análise dos recortes, constituiu-se, essencialmente, de textos de adolescentes da comunidade Nova Santa Marta. No entanto, as primeiras visadas analíticas que empreendemos levaram-nos a buscar outras textualidades que nos possibilitaram tanto trazer à tona as condições de produção dos textos dos alunos, do discurso na comunidade, como também observar as relações entre saberes advindos de diferentes FDs que entram em funcionamento na discursividade dos adolescentes. Nosso interesse pautou-se em vislumbrar as possibilidades de movimento dos sujeitos em (se) significar diante de uma profusão de discursos que instam a ‘um’ discurso modular, ao ‘engajamento’, seja pela orientação libertário-religiosa da escola, seja pelo discurso afirmativo do movimento social que repercute na ocupação, como também por aqueles de líderes comunitários; discursos estes que demonstram certa regularidade (repetibilidade), ligações semântico-discursivas com os dizeres dos alunos e que engendram sentidos em comum, que nos levam a compreender o sentido de ‘comunidade’ em seu funcionamento, em seus limites e em suas virtualidades. Sentidos que projetam tênues singularidades, alçam a subjetivação ao devir.
O cenário atual impõe pensar estratégias de subjetivação mediante uma noção de resistência que reclama novos olhares: estando as funções do Estado enfraquecidas, ao que se resiste?
Ao curso de nosso trabalho, vimos a noção de resistência se movimentar. Hoje, resistir não significa ‘desligar-se’, enfrentar ou negar a individualização pelo Estado mediante seus aparelhos ou mesmo pela micropolítica que se espalha em todo o tecido social, mas, pelo contrário, resistir assevera a urgência de se estabelecer laços, ligar-se, habitar um espaço, vincular-se de forma a ‘participar do jogo’ de produção de sentidos, de subjetividades, de vida, e, dentro dele, quiçá, forjar o novo...