Revista Rua


Tecnologias do corpo: metáforas da sutura e da cicatriz
Technologies of the body: metaphors of suture and scar

Aline Fernandes de Azevedo

 
3. O corpo-máquina ou a sobredeterminação do corpo pela tecnologia
Na atualidade, a tecnologia está inscrita na formulação e circulação de uma discursividade cujos argumentos vão sustentar a ideia de uma nova antropomorfia do corpo humano, principalmente frente à crescente intervenção da tecnologia no corpo ou para dizer de outro modo, frente à incorporação do aparato tecnológico, seja anexado à estrutura superficial (as próteses), seja alocado internamente (os implantes), aparatos que dão forma a esse corpo híbrido entre o orgânico e a máquina.
Essa analogia do biológico com o cibernético, que deu origem ao ciborg, tem fundamentado o postulado de que estamos imersos na era pós-biológica, possibilitando a articulação do conceito de pós-humano. O neologismo ciborg foi criado em 1960 por Manfred E. Clynes e Nathan S. Kline numa tentativa de designar os sistemas homem-máquina auto-regulativos. Mais tarde, o termo foi apropriado pela feminista Dona Haraway (1985), que escreveu o Manifesto Ciborg. Nele, uma suposta nova era povoada de seres híbridos sintetiza a tentativa incessante de controle da natureza, da vida e da morte: nela a tecnologia define a maneira como a sociedade é organizada e a forma de construção dos laços sociais, incorrendo em modificações sensíveis nos modos de dizer e de significar o próprio corpo. Observemos o recorte:


Figura 2 - Palco principal festival de música eletrônica Universo Paralello
Fonte: Facebook da fotógrafa Rosi Monteiro
 
Na imagem acima, recortada do site de relacionamentos Facebook, a corporalidade aparece sendo significada pela tecnologia, ou seja, o aparato tecnológico fica marcado, no intradiscurso, como um elemento do interdiscurso que instaura um efeito de pré-construído, uma vez que ele é dado como um saber anterior e que existe