Revista Rua


Entre o eterno e o efêmero: o uso do SIG - Histórico para uma análise da transformação da paisagem
Between perpetual and the ephemeral one: the use of the historical-gis for analysis of the transformation of the landscape

Bárbara Lustoza da Silva Borba e João Rodrigo Vedovato Martins

É nesse contexto que surge o polêmico projeto urbanístico Nova Luz[1] de intervenção espacial com a finalidade de promover revalorização, consistindo no fomento de um pólo comercial e de serviços e na construção de um parque que visa o afluxo de empresas da área tecnológica, por meio de incentivos fiscais, e busca a atração de classes sociais mais abastadas por meio do espetáculo do consumo turístico, lazer e cultura. Diante disso é necessário questionar sobre a capacidade explicativa da gentrificação enquanto conceito analítico nesta conjuntura, ponderando sobre suas limitações no que se refere a um fenômeno de caráter global com particularidades locais, pois a cidade de São Paulo, particularmente a área que circunscreve a Luz, é caracterizada por dinâmica e recorrente construção e destruição da paisagem urbana como se nota nos anexos das figuras 4 e 5 e por um patrimônio plural no qual imperam discursos e práticas de revalorização. Assim o espaço tem alcançado visibilidade pela incessante busca de o poder público e o setor imobiliário transformá-lo em um “bairro cultural”. Conquanto haja esse escopo, o fenômeno da gentrificação é questionável, porque não houve alteração total em termos residenciais como nos casos europeus e norte-americanos; novas classes não se estabeleceram e sim são atraídas pelas instituições culturais, ademais não houve uma nova configuração do mercado imobiliário. Entretanto, tais reflexões trazem apontamentos críticos à transposição de categorias analíticas, visto que o discurso do Projeto Nova Luz intenta nitidamente a reestruturação, contudo encontra resistência da população local e um problema que é de longa data e de difícil reversão com soluções imediatas e de curto prazo.
 
 
Uma história do tempo presente
Pelo debate anterior, podemos inferir um provável lugar na história para a internet. De acordo com o historiador Henry Rousso, membro do Instituto de História do Tempo Presente, é possível investigar um tempo que também é nosso, do qual somos testemunhas vivas[2]. A participação e experiência do tempo presente se insere no contexto social e temporal do objeto de estudo, como quando nos inserimos no contexto da internet quando a tomamos como fonte. Todavia, a prudência a ser lançada é como utilizar tal fonte, com a necessidade do distanciamento, problematização e questionamento do objeto de pesquisa, o que se faz uma tarefa complexa posto nossa inserção no próprio presente, o que não ocorre quando são objetos de análise recortes de longa duração, os quais naturalmente estamos distantes e podemos identificar suas estruturas.


[1] O Projeto Nova Luz em traços gerais é um projeto de revalorização urbana ordenado pela prefeitura de São Paulo em 2004, no último ano de gestão da Marta Suplicy do Partido dos Trabalhadores, com o respaldo do capital privado, particularmente o setor imobiliário, construtoras e empreiteiras nacionais e transnacionais.
 
[2]AREND, Silvia Maria Fávero e MACEDO, Fábio. Sobre a história do tempo presente: Entrevista com o historiador Henry Rousso. Tempo e Argumento – Revista do Programa de Pós-Graduação em História – Universidade do Estado de Santa Catarina. Florianópolis, v.1, n. 1 p. 201-216, jan/jun. 2009.