Revista Rua


Entre o eterno e o efêmero: o uso do SIG - Histórico para uma análise da transformação da paisagem
Between perpetual and the ephemeral one: the use of the historical-gis for analysis of the transformation of the landscape

Bárbara Lustoza da Silva Borba e João Rodrigo Vedovato Martins

Com o recorte temporal utilizado foi possível identificar mudança conjuntural, do papel social de uma penitenciária para um parque com instrumentos de lazer, cultura e educação. Entretanto, o fato de a mudança radical ser levada a cabo em curto período de tempo nos leva ao questionamento da preservação da memória enquanto tempo natural e da história enquanto tempo humano, segundo Jacques Le Goff[1].
A história da Casa de Detenção torna-se opaca e nebulosa, quase imperceptível se visitarmos hoje o atual Parque da Juventude. O parque e suas edificações constituem um Monumento, o qual segundo a definição de Le Goff[2] implica a escolha daquilo que vai perpetuar-se na memória coletiva de acordo com os interesses de quem detém o poder. Ao utilizar as mudanças da paisagem da região do Carandiru enquanto fonte, ou documento, podemos problematizar a atribuição de valores estabelecida ao apagar da memória coletiva, por exemplo, que ali existiu um lugar onde ocorreram deliberadamenteviolações de direitos humanos e massacres, realizados por agentes do Estado. O remanescente do complexo prisional permanece em ruínas escondidas em um local com pouca visibilidade no parque e nos muros da Penitenciária Feminina, a qual faz divisa com o Parque e os instrumentos culturais (como a Escola Técnica, quadras e a Biblioteca). Para quem não conheceu a paisagem dos arredores do Carandiru, por restrições geográficas ou temporais, o SIG-Histórico operacionalizado pelo arquivo de imagens do Google Earth possibilita associar a análise crítica de conjuntura de tempo presente, contemplando as transformações da paisagem e seu estatuto enquanto documento baseado nas fotos aéreas disponíveis no arquivo, associada à dinâmica e fluidez da internet.
 
Recorte amostral: Estação da Luz/ Cracolândia
Impõe-se como um desafio o entendimento da Estação da Luz e o contexto em que se insere na cidade de São Paulo, em especial para o que se denominou pejorativamente de Cracolândia, devido à pluralidade de perspectivas que em muitos momentos se mostram antagônicas, de acordo com os interesses em questão. A repercussão nas esferas político-sociais, ali, é significativa, por conta do fenômeno da gentrificação:


[1] LE GOFF, Jacques. História e Memória. 5ª ed. Campinas: Editora Unicamp, 2003.
[2]Op. cit. pp. 525 – 540.