Revista Rua


A Farsa e El-Rei Junot, subversão e decadência
A Farsa e El-Rei Junot, subversion and decline

Débora Renata de Freitas Braga, Otávio Rios

mundo, exprimia para uma parte significativa da ‘intelligentsia’ européia de então – e da que a repercutia noutros continentes – um sentido de cansaço, de frustração, de decadência e, sobretudo, de desilusão” (1993, p. 317). O fim de século deixara de ser, desde o oitocentos, uma noção cronológica para tornar-se, também, ideológica: a virada finissecular e a Decadência estão imbricadas, e para Arnold Hauser, o catastrofismo, ou melhor, a decadência, é um “sentimento de fatalidade e crise, ou seja, a consciência de estar no fim de um processo vital inevitável e na presença da dissolução de uma civilização” (1998, p. 914-915).
O sentimento decadente perpassou a Europa, e em Portugal fincou raízes, sobretudo, devido ao Ultimatum inglês, episódio histórico em que os portugueses abriram mão de suas possessões territoriais, aceitando a intervenção britânica nos assuntos nacionais. Portugal sofreu uma mutilação econômica, política, cultural e, sobretudo, moral. Todavia, embora o termo declínio pareça adequado ao contexto, certamente a atrofia não se estendia ao campo da produção literária, notadamente quando pensamos em escritores como Raul Brandão, Teixeira de Pascoaes, até mesmo Mário de Sá-Carneiro. É o que podemos averiguar em carta de junho de 1914 remetida por Mário Beirão: “Nesta agonia de inteligência e de alma, estúpida e passiva, que é a vida nacional, como é consolador ouvir o grito supremo e humano de Alguém que se diviniza!” (1994, p. 253). O Decadentismo não se configura em uma estética fechada, mas como um feixe de tendências, entre as quais surge o apreço pelo feio e o grotesco. A caracterização das personagens é sempre pautada na deformação, como num quadro de Rembrandt:
 
Pelas paredes a sombra alastra e sobe pelo tecto como braços de algas monstruosas e encova-lhes os olhos sem expressão tornando-os maiores e mais fixos; suas bocas enormes remoem como ventosas e a cara empedrada do Anacleto torna-se mais dura e mais impenetrável como a dum ídolo que presidisse àquela reunião de bichos temerosos (BRANDÃO, 1992, p. 21-22).

No contexto português, o decadentismo se utiliza do recurso do Sonho e da Máscara como tentativa de escapar do sofrimento. Em Candidinha, o Sonho “nunca mais pode sair da pele que um dia para si mesma talhou. Vai e vem, de rastos como a cobra, e a máscara, por mais que queira, já a não consegue arrancar. Afivelou-se-lhe para sempre à cara, Seu castigo é esse” (BRANDÃO, 1992, p. 157). Portanto, o Sonho