pois, para Machado, Raul Brandão não está vinculado a uma estética, está ligado de alguma forma a todas elas, as anteriores às suas obras, como o Romantismo e a Geração de 70, e as posteriores, como o Neo-realismo e o próprio Modernismo. Foi um escritor que levou ao extremo o processo de “transitoriedade da escrita” (1984, p. 7).
Há uma passagem do livro Assim falava Zaratustra que diz:“vede os bons e os justos! A quem odeiam mais? A quem lhes despedaça as tábuas de valores, ao infrator, ao destruidor. É este, porém, o criador. O criador [...] procura colaboradores que inscrevam valores novos às tábuas novas” (NIETZSCHE, 1988, p. 19). A narrativa brandoniana deixou marcas na literatura portuguesa posterior, e mostra que nem sempre aquele que infringe normas, destruindo o que estava solidificado, deixa de construir algo, caracterizando o desvio da tradição como uma nova tradição. Na obra brandoniana, a estrutura fragmentária do sujeito começa no próprio texto, ao negar os nexos temporais e apresentar uma organização romanesca não linear, antagônica ao esteticismo tradicional. Ainda assim, é possível que Raul Brandão nunca seja inserido naquilo que chamamos cânone literário, mas uma obra não precisa estar lá para ser lida e admirada.
Referências Bibliográficas
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BENJAMIN, Walter. Sobre o conceito de história. In: Magia e Técnica, Arte e Política: ensaios sobre literatura e história da cultura. Trad. Sérgio Paulo Rouanet; prefácio Jeanne Marie Gagnebin. 7. ed. São Paulo: Brasiliense, 1994. p. 222- 232. (Obras escolhidas; v.1).
BRANDÃO, Raul. A Farsa. Mira-Sintra: Publicações Europa-América. 1992
______. Correspondência / Raul Brandão, Teixeira de Pascoaes; recolha, transcrição, actualização do texto, introdução e notas de António Mateus Vilhena e Maria Emília Marques Mano. Lisboa: Quetzal Editores. 1994.
______. El-Rei Junot. Lisboa: Casa da Moeda. 1982.
CARDOSO, Marília Rothier. Arquivos em confronto. In: Gragoatá, n. 15. Niterói, RJ: EdUFF. 2003. p. 43-53.
FERREIRA, Vergílio. Situação actual do romance. In: Espaço do invisível: ensaios. Lisboa: Arcádia. 1965. v. 1. p. 225-272.
HAUSER, Arnold. História social da arte e da literatura. Trad. Álvaro Cabral. São Paulo: Martins Fontes. 1998.
