Revista Rua


A Farsa e El-Rei Junot, subversão e decadência
A Farsa e El-Rei Junot, subversion and decline

Débora Renata de Freitas Braga, Otávio Rios

O interesse pela obra de Raul Brandão, segundo Otávio Rios, dava-se “apenas por alguns poucos nomes das letras portuguesas que se interessavam por um modelo de subversão do romance canônico” (2008a, p. 48). A subversão, ou o pecado da escritura sempre foi um afrodisíaco para (o intelecto dos) os homens. Com a literatura não seria diferente, visto que ela transgride as normas da língua, desconstrói e faz girar os saberes, como nos ensina Roland Barthes (2007). A obra brandoniana, portanto, possui caráter de subversão, porque ao mesmo tempo em que desconstrói a linguagem, edifica; sinaliza para o início do romance moderno em Portugal. Por meio da investigação das correspondências trocadas entre Raul Brandão e o poeta Teixeira de Pascoaes, podemos verificar que a semiobscuridade em que reside sua produção contrasta fortemente com a influência que o escritor possuía: são 238 epístolas, organizadas por Maria Emília Marques Mano e António Mateus Vilhena (1994)[3], entre as quais procedemos à seleção de peças que julgamos pertinentes no intuito de mapear o percurso genético de duas obras capitais da produção brandoniana: A Farsa e El-Rei Junot, explorando os temas da subversão da escrita e das figurações da decadência quando ambas assomam no romance do final do século XIX e início do XX em Portugal.
Pode-se pensar o caráter de subversão na concepção de romance que o escritor do Douro desfaz, mas podemos ir além, assumindo que este tenha rompido com a própria noção de “texto” como algo acabado. O texto, por ser tecido, passa a ser visto não mais como fruto de um processo individual de criação; ao contrário, converter-se-ia num fio de sociabilidade construído entre os amigos escritores, o que pode ser observado no estudo das correspondências. Desta forma, a obra acabada deixou de ser o


[3] Este artigo é resultado do Projeto de Iniciação Científica da Universidade do Estado do Amazonas (UEA) para a graduação, e foi patrocinado pela Fundação de Amparo à Pesquisa no Amazonas (FAPEAM).