Revista Rua


Guerra Fria, Sangue Frio: As Conexões entre o Cinema de Terror e a Paz Armada
Cold War, Cold Blood: The Connections between Horror Movies and the Armed Peace

Marcelo Eduardo Marchi

culturalmente, para uma estadia que, supõem, será breve. Bem como a terra da qual são oriundos, esses jovens são modernos e arrojados, e têm consciência disso, assim como acreditam possuir todo o direito de ali estar. Aos seus olhos, os nativos possuem um comportamento bastante peculiar. No entanto, quando menos esperam, estão tombando feito moscas diante daquele povo quase primitivo, vitimados por armas rudimentares. A metralhadora / a motosserra, com sua ação ininterrupta, é um dos poucos utensílios industrializados, e o que possui o maior poder de destruição.
Ao debruçarmo-nos sobre o personagem Leatherface descobrimos nuances ainda mais sombrias. Basta lembrarmo-nos do episódio de My Lai em 1968, o massacre com requintes de crueldade levado a cabo não por vietnamitas (os nativos), mas pelos forasteiros, os soldados americanos. As mutilações, torturas e assassinatos perpetrados contra aldeões sem ligação com o exército vietcongue constituíram-se no mais impactante registro da brutalidade e decadência moral do exército dos EUA, embora estivessem longe de ser um caso isolado. Exemplo dessa coisificação do semelhante foram os infames colares de orelhas humanas ostentados por combatentes. Após passarem anos em guerra, pareciam ter desenvolvido uma incapacidade de enxergar os nativos como seres humanos.
Leatherface fabrica artefatos domésticos com ossos humanos, mutila as vítimas, guardando-as em um freezer como se fossem peças de carne bovina, e usa a pele de seus rostos para confeccionar as máscaras com que esconde sua própria face. Seria ele, então, uma representação dessa incapacidade, dessa coisificação do ser humano? Seria seu verdadeiro rosto, sempre oculto por máscaras, horrível demais, exatamente como a real face da América, a superpotência que invade outra nação e aniquila um número enorme de cidadãos, muitos deles civis? Parafraseando o cartunista americano Walt Kelly, “nós encontramos o inimigo, e ele somos nós”.
A Crise do Petróleo, iniciada em 1973, também é bastante evidenciada durante o filme. Basta dizer que o grupo de jovens apenas torna-se presa dos psicopatas quando alguns deles chegam à propriedade da família canibal em busca de combustível para a van, já que estava em falta no posto de gasolina da cidade.
A realidade de um mundo sem gasolina, do colapso do deslocamento humano, parece bem representada na situação dos jovens, que se encontram presos nessa cidade, primeiro por falta de combustível, e, depois, por estarem em poder dos maníacos, da mesma