Revista Rua


Guerra Fria, Sangue Frio: As Conexões entre o Cinema de Terror e a Paz Armada
Cold War, Cold Blood: The Connections between Horror Movies and the Armed Peace

Marcelo Eduardo Marchi

ao lugar destaca-se em meio à coleção de tipos com aparência rude e malcuidada, cujo ápice é encontrado no psicopata com problemas mentais que esconde o rosto (aparentemente deformado) por trás de máscaras feitas com a pele de suas vítimas. Não vemos entre os habitantes uma única pessoa que possua aspecto similar ao dos visitantes. Mesmo outros jovens como eles são raros (e constataremos, mais adiante, que existe uma temática do “velho devorando o novo” a permear o filme).
Além da população, a própria cidade transmite uma sensação de abandono, com construções antigas e desgastadas. O bucolismo impera de forma opressora. Ao procurar por gasolina, os personagens se deparam com um lago seco e um cemitério de automóveis, uma paisagem decadente que parece estar morrendo aos poucos (o que não deixa de ser uma metáfora do destino deles mesmos).
Encontramos este retrato impiedoso da América também em Sem Destino, de 1969, e Amargo Pesadelo, de 1972. Sem Destino é um claro registro do clima de “fim de sonho” que começara a se tornar patente em 1968 e atingira em cheio 1969. O movimento hippie se esfacelava, a Guerra do Vietnã parecia cada vez mais longe de terminar, e o American way of life mostrava-se mais custoso de ser convertido em uma utopia comunitária do que os militantes da contracultura imaginavam. Restava à juventude o gosto amargo da impotência e o desalento diante da atroz realidade. Era como se tivessem chegado muito perto de uma grande revolução, como se tivessem dado às pessoas engolidas pelo sistema a oportunidade de uma sociedade mais igualitária, apenas para serem rechaçados, marginalizados e mortos. O estilo de vida americano continuaria como sempre fora.
Tanto Sem Destino  quantoO Massacre da Serra Elétrica têm o olhar voltado para uma América tão distante das casas de subúrbio com carros do ano na garagem quanto da liberdade comportamental hippie.São produtos de uma era de desencanto, em que a quimera da “geração paz e amor” parecia tão vazia de sentido quanto a segurança e previsibilidade da sociedade de consumo. A essa altura da Guerra Fria já se tornara evidente para muitos que não apenas os povos por trás da Cortina de Ferro podiam ser retrógrados e anacrônicos. Os próprios americanos também eram capazes de ser.
E é nesse ponto que se torna visível um paralelo entre O Massacre da Serra Elétrica e a Guerra do Vietnã. Ambos são histórias de jovens que chegam a uma região sobre a qual pouco ou nada sabem, vindos de um lugar muito mais desenvolvido econômica e