Revista Rua


Guerra Fria, Sangue Frio: As Conexões entre o Cinema de Terror e a Paz Armada
Cold War, Cold Blood: The Connections between Horror Movies and the Armed Peace

Marcelo Eduardo Marchi

Por motivos óbvios, é inegável também a presença, na árvore genealógica de Alien, dos filmes sobre monstros realizados na década de 1950, a era do terror nuclear e da hipotética “invasão vermelha” nos Estados Unidos, que lançou seus fantasmas sobre as telas dos cinemas e transformou lixo atômico em insetos gigantes e comunistas em extraterrestres hostis. Em 1979, porém, a Guerra Fria atravessava a détente, seu período de relaxamento, quando a bipolaridade do poder mundial começava a ser reanalisada. Pouco mais de uma década depois, a Paz Armada chegaria ao seu fim.
Nesse clima de transformação política e social, a analogia com as películas da década de 1950 começava a perder-se, principalmente no momento em que levamos em consideração o fato de que o extraterrestre de Alien não chega a propriamente invadir o território dos humanos. São estes que, em seu cotidiano de exploração interplanetária (e aqui a ambigüidade do termo se encaixa com perfeição, pois a Nostromo tem como missão oficial a coleta de minérios em planetas distantes), pousam no planeta onde se localiza o ninho das criaturas a fim de atender a um sinal de S.O.S. (que, pelo desenrolar dos acontecimentos, mostrar-se-á um sinal de alerta). Depois que a criatura, ainda em uma espécie de estágio larval, salta de seu ovo e gruda-se ao rosto do tripulante Kane (John Hurt), ela é levada, junto com seu hospedeiro, à Nostromo, sob os protestos da futura heroína do filme, Ripley (Sigourney Weaver), que alega a necessidade de manter Kane em quarentena. A diferença de posicionamento entre Ripley e os demais tripulantes provoca uma acalorada discussão, que termina com o cientista militar Ash (Ian Holm) abrindo a escotilha da nave. Assim sendo, a criatura, diferentemente dos invasores espaciais das produções dos anos 1950, tem sua introdução na comunidade humana imposta por membros dessa comunidade. Mais tarde, no filme, será revelado que Ash tem ordens para conduzir a criatura à Terra e incorporá-la ao setor militar da companhia para a qual a tripulação trabalha, o que reforça ainda mais, no alienígena, a condição não de invasor, mas de presa dos humanos. Uma presa que, uma vez libertada, mostra-se incapaz de ser controlada ou detida, exceto pela aniquilação completa.
E, então, chegamos ao que parece ser outro “sinal de alerta”, implícito no filme, e que, dentro do contexto da ressaca hippie, dos últimos suspiros da liberalidade característica dos anos 1970 às portas do conservadorismo que se anunciava na vindoura