Revista Rua


A placa na entrada da cidade: a (re)nomeação dos seus sujeitos
A sign at the entrance of the city: the (re) naming of its citizens

Stella Maris Rodrigues Simões

A antecipação parece visível e cristalizada. Pêcheux (1993) afirma que “esta antecipação do que o outro vai pensar parece constitutiva de qualquer discurso (...)”. Ao ser atravessado pelos sentidos da cidade, o sujeito “sentirá” os efeitos da parceria. Cristalização que atravessa o imaginário do visitante, antes mesmo de que ele “leia” o nome da cidade que o (re) significa como parceiro. A parceria resulta em qualidade de vida: mantém-se a ambiguidade, “da melhor cidade para se viver” e da parceria que faz o negócio, o mercado, no mundo capitalista, portanto do que pode ser “bem sucedido”.
 
Conclusões
A presença de um enunciado, sentido a ser lido, na entrada de uma cidade deve ser analisada como um gesto de renomeação, um gesto de sujeitos que clamam uma nova individuação, um re-assujeitamento que os separem dos muitos cidadãos -  sujeitos de cidades – já existentes. Orlandi (2011), retomando Bataille (1946), afirma poeticamente, ainda que na perspectiva discursiva, que “a metáfora do grupo-corpo acalma a angústia da cisão do sujeito.” A placa suscita a imagem do “grupo-corpo”, sujeitos significados em um espaço comum, acolhendo sujeitos de espaços outros; gesto que acalma, borda horizontes, ama, produz qualidade.
O imaginário de singularidade ultrapassa a determinação de um nome já cristalizado, mas requer uma explicação, um enunciado apositivo que o caracterize, renomeando os sujeitos – cidadãos. “A determinação e a explicação se ajustam como peças de um mecanismo indestrutível funcionando na eternidade da evidencia lógico-jurídica” afirma Pêcheux (1981). Efeito de sustentação. O sujeito, cidadão de direitos e deveres, já significado no território, é determinado (e fundido) pelo (no) “corpo cidade”, e clama pela explicação, que gera a evidência da homogeneidade em relação ao grupo, e da heterogeneidade em relação aos outros grupos.
De acordo ainda com Pêcheux (1981), “É a construção de um espaço sem resto em que os dispositivos de engendramento dos nomes se apossam do real aí traçando suas fronteiras, para o esquadrinhar e marcá-lo”. O apossar e nomear o território – agora o geográfico - é um imaginário de domínio, de poder, de contenção dos sentidos; imaginário que interpela, desloca, territorializa – agora o discursivo. A busca (imaginária) pela construção do espaço sem resto, do espaço sem silêncio, desloca o sujeito. Drummond já tentara “apossar o real” personificando as casas, esquadrinhando os homens, adicionando orações subordinadas que saturassem, completassem os sentidos.  As placas, ali re-nomeando, buscam esse sentido sem resto, esse sujeito com fronteiras, esquadrinhado. O sujeito “do lugar”.