Revista Rua


A placa na entrada da cidade: a (re)nomeação dos seus sujeitos
A sign at the entrance of the city: the (re) naming of its citizens

Stella Maris Rodrigues Simões

O processo pelo qual ocorre a renomeação do território de Itajubá é bastante distinto do ocorrido nos outros municípios analisados. Há, na cidade, duas entradas principais, nas quais não há placa fixada. Os enunciados (Figura 3) foram dispostos em uma entrada que liga Itajubá a Maria da Fé, rodovia de menor fluxo, se comparada às outras. Contudo, os sentidos que atravessam os enunciados filiam-se, talvez, ao local (empírico) de sua colocação, ou seja, vinculados mais estreitamente às suas circunstâncias de enunciação.
A ausência de elementos (casas, instituições, comércio) nessa entrada faz com que o visitante não reconheça o território como singular, como único. É necessário, assim, identificá-lo; gesto simbólico que não ocorre nas outras entradas, onde empresas, casas, presídio... significam a “Itajubá” e “acolhem” o recém-chegado. A placa é a materialização de dois gestos: o de apresentar a cidade e o de representar os sentidos que circulam “materialmente” em suas outras duas entradas.
Diferentemente do processo de renomeação analisado anteriormente (Figura 2), na primeira placa não há o nome do território, mas apenas o enunciado que o renomeia. A relação causa – consequência (parceria-qualidade) é sustentada pelo verbo “produz” inscrito em um discurso capitalista, de produção. Discurso que pode ser “visualizado” nas demais entradas, em que indústrias corporificam o capital, a produção.
No enunciado também circulam outros sentidos que compõem o imaginário da cidade e a memória discursiva local. A junção de ensino superior – capital humano – a emprego – setor industrial que absorve o humano – é significado pelo termo “parceria”. Ligação não obrigatória, outorgada, mas harmônica, amistosa. O complemento (o resultado) “qualidade de vida” inscreve-se em um discurso do homem atual, cuja satisfação buscada não é apenas a financeira, mas a psicológica, a imaterial. É também um “lembrete de memória” (ORLANDI, 2011) de um discurso midiático veiculado em 2006, em que Itajubá foi considerada “uma das melhores cidades para se viver”.
Após individuar o visitante, atravessado pela “referenciação – substituta” do imaginário produzido pelo empírico das demais entradas, é apresentado o nome da cidade e uma saudação de que o sujeito, já cidadão itajubense, é bem-vindo. A nomeação tem assim menor importância em relação à renomeação, gesto que singulariza o território em relação aos outros do Sul de Minas.