Revista Rua


A placa na entrada da cidade: a (re)nomeação dos seus sujeitos
A sign at the entrance of the city: the (re) naming of its citizens

Stella Maris Rodrigues Simões

Introdução
As casas espiam os homens
Que correm atrás das mulheres.
Carlos Drummond de Andrade
 
O olhar de Drummond sobre a casa, que não é apenas o abrigo do homem, mostra, no domínio literário, a personificação do espaço – lugar que significa – materializando um pensar que foge ao arquitetônico, à organização do ambiente, e ao social, indivíduos articulados nesse ambiente. Esta análise também não será um “espiar” estrutural, mas pensaremos sobre a significação do espaço de uma cidade, observada como sentidos organizados e em constante movimento.
Orlandi (2004), refletindo sobre os sentidos da cidade, afirma que “no território urbano, o corpo dos sujeitos e o corpo da cidade formam um, estando o corpo do sujeito atado ao corpo da cidade, de tal modo que o destino de um não se separa do destino do outro.”. Quais seriam, então, os sentidos produzidos em uma cidade? Quais os sentidos produzidos por uma cidade? Quais os sentidos produzidos a uma cidade?
O sujeito capitalista, este ser do discurso jurídico, é primordialmente cidadão. Vocábulo cuja origem etimológica liga-se à do termo cidade. Um sujeito é, pois, indivíduo de direitos e deveres, é parte da nação, ao se fazer cidadão. Antes mesmo de existir materialmente, a criança é significada em seu espaço. A licença garantida pela empresa, um lugar cedido à gestante ou uma conversa sobre o nome do bebê são práticas do cotidiano constituintes do imaginário do povo; cidade que significa o cidadão, ainda “não matéria” no território urbano.
Assim, pensando nessa relação “cidade e sentido”, refletiremos sobre a (re) nomeação de seu território. Termo aqui inscrito não em um domínio geográfico, mas, conforme afirma Orlandi (2011), “estamos pensando o enlaçamento significativo entre sujeito, espaço, linguagem e acontecimento”. O território é, assim, um espaço simbólico,delimitado por relações de poder em que o sujeito se inscreve e é inscrito por ele.
Buscaremos compreender, por meio da análise de placas fixadas na entrada de cidades, como os textos produzem sentidos à população local e como afetam o imaginário do visitante, no modo como o individuam, em seu processo de identificação, em sua inscrição em formações discursivas, constituídas a partir desses gestos de nomeação.