Assim, a inscrição em outra conjuntura produz simultaneamente um efeito metafórico e um efeito metonímico. É metáfora ao se pensar em substituição de elementos que, como afirma Pêcheux (2011) “teriam a propriedade de ser ao mesmo tempo idênticos a eles mesmos e diferentes deles mesmos”. O coração “pode ser” a letra devido a seu formato e a seu sentido cristalizado que o remete ao ato de amar, contudo “não é” a letra por não se significar sempre como “o”.
Ocorre também metonímia se pensarmos no deslize, já institucionalizado por muitos gestos de memória literários, históricos, populares, que filiaram o coração como o órgão produtor de sentimentos. O sentido de um símbolo – o não verbal – é prolongado, estendido, como o sentido do próprio sujeito renomeado, que agora ama a cidade. Tanto a associação metafórica como o prolongamento metonímico são inscritos em uma discursividade peculiar que interpela os sujeitos e o espaço, já renomeados.
A imagem em questão insere o enunciado em uma formação discursiva ligada ao “sentimento como modismo”. O coração se inscreve no discurso jovial (o adolescente que deve demonstrar seu amor), no discurso midiático (o gesto que une ídolos e fãs), no discurso capitalista (a marca que deve ser adquirida). É o “sintoma” do discurso disponível, (Orlandi 2004) o que renomeia a cidade como jovem, atual, “da moda”, características que se estendem aos seus sujeitos.
Pêcheux (2011) afirma que “a referência discursiva do objeto já é construída em formações discursivas (técnicas, morais, políticas...) que combinam seus efeitos em efeitos de interdiscurso.” A substituição da letra pela imagem – cujos traços remetem a um desenho infantil – não é uma “escolha” por outra formação discursiva, mas a construção do símbolo já é um efeito da filiação, o que suscita deslocamentos e efeitos ao espaço-cidade e a seus sujeitos.
Figura 3: Placa da entrada da cidade de Itajubá-MG. Fonte:do Autor
