político, cujo motor é dado pelo dissenso, que diz respeito aos movimentos de subversão desta lógica policial. A
política, nestes termos, perturba a ordem dada e a malha de desigualdades sociais na qual se assenta. Ela opera através da enunciação e colocação em prática de um discurso igualitário que coloca em questão as subordinações e identidades estabelecidas. Enquanto a lógica do político é pautada pela igualdade de qualquer um a qualquer um, a lógica social é estruturada em desigualdades e hierarquias. O dissenso, nas palavras de Rancière, não é a guerra de todos contra todos, o que equivaleria à ausência mesma de política. Ele dá lugar a situações de conflito, a situações de discussão e de argumentação, mas de um tipo específico, que não ocorrem entre parceiros de debate já definidos.
[8] Neste embate, o sujeito político é constituído no e pelo conflito, não é uma identidade já conformada, existente previamente. Os sujeitos políticos configuram-se como os operadores da verificação, no real, do princípio de igualdade. Não são estáveis e expressam a potência de manifestação do litígio, o enfrentamento de mundos polêmicos, propondo um desvio na atmosfera normalizada da dominação. Segundo o filósofo, a idéia de emancipação refere-se à afirmação do princípio da igualdade como estando na “origem” da esfera do político. Sua verificação põe em ação a lógica da subjetivação política, a qual nunca é a simples afirmação de uma identidade, “é sempre, e ao mesmo tempo, a negação de uma identidade dada por um outro, dada pela ordem dirigente da polícia”.
[9] Ela é uma demonstração, que sempre supõe outra, é “o encenar de um lugar comum polêmico” em que se opera com a demonstração da igualdade e o dano causado socialmente aos que não contam. O lugar que o sujeito político ocupa é o de um intervalo, uma lacuna, um espaço ocupado por aqueles que estão como que ‘no meio’, entre o humano e o desumano, entre a cidadania e sua negação.
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