Revista Rua


Língua na Rua: Margens do Sujeito
(The language in the street: the margins of de subject)

Carolina P. Fedatto

O sujeito como margem na rua é significado como um cenário, já urbano, às vezes por resolver.
Mas a possibilidade do deslize entre adjuntos adnominais (pertencimento) e adjuntos adverbiais (circunstancialidade) mostra a polissemia do espaço da rua e desloca a inscrição do sujeito marginal-izado no urbano. É dessa forma, numa relação tensa com o espaço, que ele é administrado e, ao mesmo tempo, escapa à urbanização. Por estar na rua, por ser da rua, é que o sujeito é marginal-izado. E, paralelamente, é por ser marginal-izado que o sujeito está na rua, é da rua! A circularidade da definição permite que a presença/permanência do sujeito na rua coloque em causa a maneira urbanizada de lidar com o social. Com esta análise vemos que o processo de nomeação do sujeito na/da rua constrói equivocamente uma relação com o espaço urbano. O sujeito no meio da rua ressoa outros sentidos de margem. Estando na rua, ele é afetado pelos sentidos urbanos para a rua (a rua como lugar de passagem) e também ele afeta a rua com sua presença (o quotidiano nos mostra cada vez mais que a rua é um lugar – permanente – para muitos sujeitos).
A consideração da dispersão do sentido e do sujeito é ponto fundamental para o trabalho discursivo. Se a materialidade do significante coloca limites (não é qualquer sentido que faz sentido), ela também dá brechas (o não-sentido, atado ao corpo da história, pode vir a fazer sentido). Vimos que o discurso urbano busca conter o movimento de sentidos e sujeitos através da organização, que impõem suas técnicas ao quotidiano das relações citadinas. Mas a cidade tem seu funcionamento, sua ordem própria que reinterpreta em social o já-interpretado pelo urbano. O jogo dos sentidos se refaz no embate com a cidade, o sujeito disputa seus espaços desviando do imaginário urbano, se ancorando na possibilidade da diferença que o social instala. E a língua funciona aí de maneira decisiva: como lugar de resistência.
 
Résumé
Cet article aborde le fonctionnement discursif de la désignation du sujet qui est dans la rue. À partir de l'analyse des formes linguistiques convoquées dans l'énonciation du rapport entre le sujet et l'espace, on montre comment la politique de sens de la langue marque sa propre organisation syntaxique par une filiation avec le discours urbain. Chargé des sens de l'administration, le mode urbanisé de voir la ville se transfère, à son tour, à la circulation/fixation du sujet dans la ville. À la fois, par le jeu de paraphrases entre les différentes désignations, on observe l'irruption du social là où la structure de la langue s'inscrit dans l'histoire pour faire sens.