Revista Rua


Língua na Rua: Margens do Sujeito
(The language in the street: the margins of de subject)

Carolina P. Fedatto

O cruzamento de ruas é um momento de parada, de proximidade, de espera, de fluxo dos sujeitos urbanos; e um espaço de in-visibilidade, de intervalo, de interrupção em sua estrutura: trecho da cidade exposto a diferentes gestos de interpretação pela confusão, profusão, pela interseção de ruas, sujeitos, sentidos. O quotidiano da cidade nos mostra diferentes formas de estar sujeito: passando ou esperando: organizadamente; pedindo, vendendo, roubando, trabalhando, divertindo...: (im)previsivelmente. Espaço específico de interpretação de sentidos na cidade: lugar de observação e recorte de análise. Olho para os cruzamentos buscando compreender a textualização do sujeito no espaço, deixando-me atravessar pelos sentidos de social que a cidade faz circular. O sujeito na cidade, dentro e em meio, às margens. Meu modo de entrada nessas questões se ancora na circulação da linguagem e do sujeito: sua corporificação no espaço. A circulação possível da cidade em nossa organização social, uma circulação determinada pelo urbano (cf. ORLANDI, 2004), significa o espaço de forma a conter – polissemicamente – uma dispersão. É nesse sentido que enfocamos o cruzamento como espaço de contradição: enquanto contenção na cidade ele é sintoma de uma urbanidade incontida, que não cabe na cidade e na qual a cidade não cabe.
Proponho uma análise dos sentidos da cidade em processos de nomeação do sujeito. Como a rua os significa? Essa forma-sujeito que está nas ruas é designada, como veremos, de maneiras muito específicas. Compreender o sujeito (n)à cidade através da forma do nome, do chamar, do interpelar é considerar a equivocidade das questões sociais materializadas na própria língua. Problematizar a questão da designação é dar um passo na compreensão dessa especificidade. Conforme Guimarães (2005: 9), “a designação é o que se poderia chamar de significação de um nome, mas não enquanto algo abstrato. Seria a significação enquanto algo próprio das relações de linguagem, enquanto uma relação lingüística (simbólica) remetida ao real, exposta ao real, ou seja, enquanto uma relação tomada na história”. O processo de designação se mostra como um trânsito instável entre linguagem e objeto, como um cruzamento de discursos exposto à diferença (GUIMARÃES, 1995: 74). É pelo simbólico que temos acesso ao objeto, que construímos uma possibilidade de relação com o mundo. Se, linguisticamente, temos formas de nomear as pessoas que estão nas ruas é porque a relação do sujeito com o espaço é uma questão importante em nossa sociedade. Nomear é dar corpo para uma necessidade de entendimento, de conhecimento, de administração.