Revista Rua


Língua na Rua: Margens do Sujeito
(The language in the street: the margins of de subject)

Carolina P. Fedatto

transbordamento do social, que reflete e faz funcionar a ordem própria da cidade. Esse é mais um modo de disfarçar os sentidos que produzem e reafirmam a explosão do social no espaço urbano. Esse espaço-entre, que junta e separa ao mesmo tempo, é repleto de significações. Recorto algumas nomeações para dar visibilidade à relação do sujeito com o espaço urbano. Sujeito e espaço se relacionam na linguagem, se textualizam na cidade:
Recorte 1:
Os meninos do sinal
Estudantes e crianças de rua
A garotada da rua
Adolescentes de rua
Adolescentes das ruas
População de rua
Meninos de rua
Morador de rua
O morador de rua
 
Recorte 2:
Crianças na rua
Crianças em sinais
Pedintes nos semáforos da cidade
Adultos que viviam nas ruas
População que vive nas ruas
 
O primeiro grupo de nomeações se caracteriza pela presença de adjuntos adnominais: complementos que caracterizam, especificam o nome. O segundo recorte traz nomes acompanhados por adjuntos adverbiais: circunstanciando, localizando indiretamente o nome. Indiretamente, pois o adjunto adverbial incide sobre um verbo intransitivo, que, presente ou ausente, intermediaria a relação entre o nome e o complemento re-alocando seus efeitos. Os adjuntos – adnominais e adverbiais – são marcas, traços da organização discursiva de onde podemos apreender propriedades da relação dessas nomeações com a exterioridade do discurso (cf. distinção de ORLANDI, 1983, entre marcas e propriedades). Quais são as propriedades do discurso sobre quem está na rua? Como podemos compreender os efeitos de sentido produzidos pelos adjuntos?
Essas formas de nomeação expõem a forte relação entre o sujeito e os espaços da cidade: rua, sinal, semáforo. Os adjuntos significam o nome colando o sujeito no espaço. De rua, da rua, das ruas. (Ad)juntam a falta. Ser da “rua [...] ser conhecido de todos; lugar habitual, imutável, ‘velho como as ruas’. Criança de rua. Privada de