Revista Rua


A ambiência, trilhando caminho - em direção a uma perspectiva internacional

Jean-Paul Thibaud

ambiência de certos espaços públicos urbanos, sejam daqueles de Bonn, Varsóvia, São Paulo, Túnis ou Paris[2].
            Uma lição que podemos tirar dessa cooperação é que ela abriu novas questões e perspectivas ao domínio das ambiências. Ela não se limitou a reconduzi-lo de modo idêntico, a transferir tal qual um corpo de saber existente ou a aplicar mera e simplesmente metodologias de campo já constituídas. Esta colaboração internacional só foi possível ao preço de um verdadeiro gesto de conversão. Nós queremos dizer com isso que a fim de tornar-se pertinente e operatória para cada uma das equipes, a noção de ambiência foi objeto de um certo número de reformulações e deslocamentos. Essas transformações operaram-se em três níveis principais:
            No nível lingüístico - Era preciso traduzir a palavra “ambiência” nas outras línguas: em polonês (nastrój), português (ambiência mais do que ambiente), árabe (jaw) e alemão (Atmosphäre mais do que Stimmung, Ambiente ou Klima). Na busca da melhor versão, abria-se a cada vez um novo campo semântico, aparecia uma nova maneira de recortar o real, sendo preciso esclarecer o máximo possível as acepções do termo “ambiência” e revelando precisamente através disso as potencialidades e limites da palavra em francês. Em soma, a passagem pela tradução era um meio de desconstruir essa noção (em que difere da noção de ambiente? como coloca em causa a oposição entre objeto e sujeito?), de pôr em evidência o que ela contém de implícito (ela tem necessariamente uma conotação positiva? em que convoca o que envolve e o que perdura no tempo?) e de abrir sua área de significação (como passar de um uso corrente a um uso científico? como operacionalizá-la para pensar em processos e não somente em estados?).
            No nível disciplinar - Ao mobilizar perspectivas tão diferentes como as da geografia humana ou do urbanismo, da psicologia ambiental ou da arquitetura, da Análise de Discurso, da sociologia urbana ou da saúde pública, tratava-se de medir o


[2] Cada equipe ocupou-se do estudo de uma praça pública e de uma linha de transporte em comum (metrô ou bonde) em seu país de origem. O objetivo comum foi evidenciar os processos e modalidades de emergência das ambiências urbanas. Em relação às praças públicas, cada equipe desenvolveu livremente sua própria metodologia, enquanto que para as linhas de transporte em comum uma mesma abordagem (escuta reativada) foi coordenada pela equipe Cresson. Esse dispositivo de pesquisa consistiu em fazer variar os ângulos de abordagem das ambiências e a interessar-se não somente nos resultados obtidos (quid das dinâmicas de ambiências?), mas também nos caminhos tomados para chegar a elas (quid das metodologias?).