Revista Rua


A ambiência, trilhando caminho - em direção a uma perspectiva internacional

Jean-Paul Thibaud

            O segundo gesto - o da diferenciação - consiste em propor uma alternativa a outras abordagens do ambiente sensível urbano. É assim que a ambiência se distingue tanto das problemáticas do incômodo, do conforto ou da paisagem. Ao proceder desse modo, ela tenta emancipar-se das perspectivas normativas demais em matéria de ambiente, fazer valer a atividade do sujeito da percepção e o papel das práticas sociais na concepção sensível do espaço construído, advoga em favor de abordagens plurissensoriais e torna possível uma atenção às situações ordinárias da vida urbana. Através dessas diversas contribuições, a ambiência marca sua distância em relação aos campos de conhecimento vizinhos e chega a formular um conjunto de questões que a caracterizam propriamente.
            Nesse duplo gesto de determinação e de diferenciação, a ambiência constitui-se como domínio de pesquisa autônomo e começa a difundir-se no seio da comunidade científica internacional.
 
Lição de um dispositivo experimental
            Uma pesquisa recente[1] pode sem dúvida ajudar-nos a compreender a importância das colaborações internacionais. Nessa experimentação, tratava-se de submeter a noção de ambiência ao crivo de equipes estrangeiras oriundas de campos disciplinares diferentes. Os trabalhos empíricos realizados por cada equipe trataram da


[1] Refiro-me aqui a uma pesquisa intitulada Processus et modalités d’émergence des ambiances urbaines (Processos e Modalidades de Emergência das Ambiências Urbanas), desenvolvida sob minha coordenação. Levada no âmbito do programa Action Concertée Incitative “Terrains, Techniques, Théories. Travail interdisciplinaire en sciences humaine et sociales” (Ação Concertada Incitativa “Terrenos, Técnicas, Teorias. Trabalho Interdisciplinar em Ciências Humanas e Sociais), do Ministério da Pesquisa da França, esse trabalho mobilizou a colaboração de cerca de vinte pesquisadores vinculados a equipes francesas (laboratórios Cresson, da Ecole Nationale Supérieure d’Architecture de Grenoble, e Territoire), alemã (Instituto de Geografia, Universidade de Bonn), polonesa (Departamento de Psicologia, Universidade de Varsóvia), brasileiras (Labeurb – Laboratório de Estudos Urbanos/Nudecri, Universidade Estadual de Campinas; Departamento de Saúde Pública e Lapsi– Laboratório de Psicologia Sócioambiental e Intervenção, Universidade de São Paulo) e tunisiana (Unidade Conceptions et Usages de l’espace urbain, da Ecole Nationale d’Architecture et d’Urbanisme de Túnis). Diversas disciplinas estiveram representadas nesse grupo de pesquisa: geografia, psicologia, arquitetura, urbanismo, lingüística, sociologia, saúde pública.