Revista Rua


A enunciação da cidade: práticas discursivas sobre a São Paulo do início do século XX
The city enunciation: discourse practices about São Paulo at the beginning of XX century

André Luiz Joanilho, Mariângela Peccioli Galli Joanilho

cidade e o campo. A primeira acaba por levar ao segundo as suas relações de produção, ou melhor, o aceleramento da produção, como vimos acima, sendo que através dessas relações “mostrou-se que a cidade, projetando sua sombra pelo interior, contribuía para perturbar a anatomia ecológica de uma vasta região agrícola” (MORSE: 268). Isso não quer dizer que a pureza do campo foi maculada pela vileza da cidade, e sim que a produção agrícola se volta exclusivamente para os centros urbanos, ditando-se o que, o como, o quando e o quanto produzir.
Tendo como modelo a guerra, tudo na cidade passa a ser superlativo. Prédios, fábricas, produção, alimentos, água, esgoto, energia, pessoas. Assim:
 
os homens construíam às pressas e mal tinham tempo para arrepender-se de seus erros, antes de porem abaixo as estruturas originais e construir de novo, com a mesma desatenção. Os recém-chegados, fossem bebes ou imigrantes, não podiam esperar moradas novas: amontoavam-se onde quer que houvesse lugar. Foi um período de vasta improvisação urbana: o provisório amontoava-se sobre o provisório (MUNFORD: 157).
 
 
São Paulo, desde as reformas de 1870, é provisória. A cada dia a capital renascia dos seus escombros. O seu caráter da não permanência foi notado por muitos que a visitavam:
 
o que a destacava profundamente das demais cidades do interior e a tornava objeto de justo orgulho dos paulistas era o fato de possuir, já naquela época, um bom número de melhoramentos, fruto tanto da energia oficial como do esforço dos particulares: casas assobradadas de um e dois andares, os primeiros degraus dos futuros arranha-céus; ruas e casas com iluminação a gás; bondes a tração animal; carros de praça e particulares, de vários formatos e tamanhos [...], etc. (BRUNO, 1981: 110).
 
 
 Como exemplo, temos o vale do Anhangabaú, a sua transformação nos anos dez em parque foi completamente desfigurada nos anos 30, quando:
 
a falta de transportes, a angustiante deficiência dos serviços de telefones e correios desestimulou a criação de centros alternativos para expansão do centro comercial. Dessa forma, um a um, os belos edifícios da metrópole do café foram demolidos para ceder lugar a