Revista Rua


A enunciação da cidade: práticas discursivas sobre a São Paulo do início do século XX
The city enunciation: discourse practices about São Paulo at the beginning of XX century

André Luiz Joanilho, Mariângela Peccioli Galli Joanilho

“todas as nações hão de attingir um dia o gráu de civilisação a que chegaram as nações mais cultas, mais livres e mais esclarecidas do mundo inteiro.
Essa regra, essa norma [...], está a mostrar de sobejo a sua veracidade.
O Brasil, como nação, não se póde furtar a essa regra, e São Paulo, que marcha na vanguarda do progresso do Brasil, em procura da perfectibilidade, do aperfeiçoamento, S. Paulo, que é o centro culto que todos nós conhecemos, onde a instrucção está difundida, onde o commercio, a agricultura, a industria, caminham a passos gigantescos para o aperfeiçoamento, onde a arte a literatura fizeram o ninho de suas aguias, S. Paulo, o berço das gerações grandiosas de notaveis brasileiro que culminaram na vida intellectual, S. Paulo, que extasia os olhos de seus visitantes ante as provas, dia a dia maiores do seu progresso, que o transforma na mais bella e brilhante cosmopolis, S. Paulo precisa dar a esse progresso fulgurante e maravilhoso o equilibrio que provém da ordem, que provém da tranquilidade, que provém da prevenção e repressão ao crime”. Ufa! (O Estado de São Paulo, 02/08/1907).
 
 
O ufanismo paulista do promotor não deixa de projetar imagens a respeito da cidade que, aos poucos, vai se transformando no espaço privilegiado das ações normatizadoras das instituições públicas, e não é com menos peso que Roberto Simonsen percebe que “estamos num Estado abençoado, numa porção excepcional da nossa patria” (O Estado de São Paulo, 31/05/1919).
Vemos que as projeções sobre as terras paulistas e, especificamente, sobre a sua capital, instigam práticas. Práticas para um maior controle sobre a sua população, educando-a para as lides industriais, para o progresso, para a modernidade, e, com efeito:
 
num paiz novo como o nosso, e dadas as condições cosmicas, temos de criar esse espirito, já existente nos velhos paizes pelas tradições e experiencia accumulada de seculos [...]. Temos de estudar a fundo os problemas nacionaes; de vulgarisar com rapidez a educação economica e os ensinamentos da sciencia, como obra indispensavel de partriotismo, para que, no concerto das nacões venhamos a occupar a posição que temos direito pela nossa grandeza e pelas aptidões da nossa raça (SIMONSEN, O Estado de São Paulo, 31/05/1919).
 
 
Preparados dessa forma, os indivíduos estariam preparados para o futuro.