Revista Rua


A enunciação da cidade: práticas discursivas sobre a São Paulo do início do século XX
The city enunciation: discourse practices about São Paulo at the beginning of XX century

André Luiz Joanilho, Mariângela Peccioli Galli Joanilho

o problema também é fonte de preocupação no momento em Paris, Londres, Nova Iorque, para citar algumas grandes cidades.
No século XIX a cidade é vista como um “tecido patológico” (HAROUEL, 1990: 115), e deve ser purificado. Com as teorias em voga, a atuação é feita a partir de obras de grande envergadura. Entretanto, com as mudanças nas concepções de doenças e de transmissão, dos indivíduos, a atuação passa a ser direta nos próprios indivíduos, daí a importância no fornecimento de água para cada casa. Então, a discussão travada traz consigo estas preocupações: sobre o corpo, sobre os sujeitos, sobre as doenças e sobre formas de controle (do corpo, do indivíduo e, conseqüentemente, das doenças).
Neste aspecto, a discussão sobre o fornecimento de água potável para a população denota as preocupações com a própria cidade, com o seu asseio, com a sua limpeza. E se a água é um dos fatores preponderantes para tanto, cabem ainda ações efetivas para purificar o ambiente urbano. Porém, estas ações ultrapassam as atribuições do Serviço Sanitário.
O problema da limpeza não diz respeito somente à água, e poderíamos afirmar que, muito pelo contrário, ela é uma decorrência: “agua pura abundante e extinção completa de todas dejecções urbanas, constituindo a perfeição do aceio, são e hão de ser sempre os dous termos bazicos do grande problema de saneamento geral de qualquer centro populoso” (ARRUDA, O Estado de São Paulo, 13/03/1890).
Ela é decorrência de uma limpeza que envolve o próprio espaço urbano. É assim que:
 
nas noites de sabbado e domingo o primeiro delegado de Santa Ephigenia, em dilligencia no seu districto, multou vinte e uma pessoas que se entretinham com jogo de cartas em diversos armazens [...]. Os jogadores foram multados de accôrdo com as posturas municipaes, sendos os respectivos autos de multas remettido á camara municipal (O Estado de São Paulo, 07/05/1907).
 
 
As preocupações do médico vão encontrar respaldo na ação policial. A cidade que era inserida no processo de industrialização, se via de frente com os “refugos” produzidos por este processo:
 
seguiram hontem para Santos, com destino á colonia correccional, na Ilha dos Porcos, os dezesete individuos ultimamente condemnados, por não terem occupação. [...]. Na delegacia de policia de Santa Ephigenia serão hoje iniciados os processos contra os desoccupados Santo P., Mario de C. e Antonio