Revista Rua


Família, educação e vulnerabilidade social: uma análise da Região Metropolitana de Campinas.
family, education and social vulnerability: the case of the Metropolitan Region of Campinas

Sergio Stoco

 
Mas não é trivial orientar estas inferências, por isso, é necessário retomar a construção operativa do conceito de capital cultural, o que amplia a versão economicista (capital humano) para além da associação da escolaridade dos pais à remuneração no emprego ou sucesso escolar.
Segundo Bourdieu (2004) o capital cultural pode existir sob três formas: no estado incorporado, ou seja, em forma de longa duração disposições da mente e do corpo; no estado objetivado, sob a forma de bens culturais (pinturas, livros, dicionários, instrumentos, máquinas, etc); e no estado institucionalizado, representado na forma de títulos escolares.
Além de outras questões já apresentadas aqui, a condição de sociabilidade da população é bastante reduzida (entendida aqui como espaços de convivência) e bastante relacionada com as condições financeiras e a percepção da cultura legítima (efeito às vezes causado pelos próprios itens do questionário).
O único espaço amplamente frequentado por jovens (15 a 24 anos), independentemente da região onde vivem, são os shoppings centers (a passeio). A frequência destes espaços é de 66% para ZV 1, 75% na ZV 2, 94% na ZV 3 e 90% na ZV 4. Entre os adultos (25 a 65 anos) o passeio nos shoppings centers, tem a preferência de 50% para ZV 1, 56% na ZV 2, 73% na ZV 3 e chega a 82% na ZV 4. A freqüência ao passeio no cinema tem intervalos e diferenças muito parecidas com esta distribuição dos shoppings centers[6], apenas com proporções um pouco menores.
Independentemente, porém, da zona de vulnerabilidade, os maiores de 17 anos ficam, predominantemente, em casa no tempo livre, ou seja, quando não estão na escola ou no trabalho ficam em casa na ZV 1 (82,1%), ZV 2 (75,1%), ZV 3 (76,1%), ZV 4 (76,1%).
Os jovens entre 17 e 24 anos não frequentam, na sua maioria, outros espaços educacionais (idiomas, computação, especialização etc), mas a diferença entre os estratos de vulnerabilidade é perceptível. Enquanto 88,4% dos jovens da zona de vulnerabilidade 1 não frequentam estas atividades, a proporção dos jovens não frequentadores da ZV 4 é de 68,7%.


[6] Vale lembrar que atualmente quase a totalidade das salas de exibição de filmes estão nos shoppings centers.