Revista Rua


Família, educação e vulnerabilidade social: uma análise da Região Metropolitana de Campinas.
family, education and social vulnerability: the case of the Metropolitan Region of Campinas

Sergio Stoco

Quando perguntado ao respondente sobre o que leva os menores de 25 anos a não frequentar mais a escola (motivos), dentre as opções disponibilizadas destacam-se as respostas ligadas a “motivos financeiros” e “precisar trabalhar para ajudar no orçamento doméstico” 37,6%; “não gosta ou não quer estudar”, “prefere só trabalhar” e “parou por um tempo” agregadas somam 35,3% e “casou ou teve filho” 13,4%, o que não varia muito entre as zonas de vulnerabilidade.
Esta última informação, sobre os jovens menores de 25 anos que não frequentam a escola precisarem trabalhar ou terem outros motivos para deixar de estudar, pode estar relacionada ao valor e às expectativas que esta população deposita na escola, o que nos leva a traçar um quadro da situação de escolaridade da região.
Olhando para a geração que está na escola, uma inferência sobre os dados apresentados que se detivesse, apenas, na perspectiva de acesso concluiria que a situação da RMC é bastante adequada, já que as crianças entre 7 e 17 anos estão quase todas matriculadas, a grande maioria em idade adequada ao nível escolar, em escolas muito próximas a sua residência. Porém se observarmos que 39,7% dos estudantes do período noturno na ZV 1 têm entre 15 a 17 anos e que 72,8% na faixa etária entre 18 e 25 anos não frequentam a escola (por motivos financeiros, familiares ou por não acreditarem que esta lhe possa trazer benefícios) então a situação da desigualdade escolar é preocupante.
Considerando as características econômicas da região (pólo de indústrias de alta tecnologia e serviços especializados) percebe-se que esta geração não estará preparada para assumir os postos de trabalho gerados pela RMC. Evidentemente os trabalhos especializados e o adensamento populacional propiciam uma cadeia de trabalhos menos especializados, mas estes são insuficientes, se consideramos os padrões de alto valor agregado de consumo e o fato de que a concorrência por postos de trabalho menos especializados, na região, soma-se às gerações que já passaram pela idade escolar, pois 62,8% de pessoas com mais de 15 anos tem menos de 11 anos de estudo e 5,2% são analfabetos.
A relação entre trabalho, família e escola é fundamental para entender os comportamentos e expectativas dos jovens em relação ao seu futuro, Sposito (2005), e há uma tendência nas economias latino-americanas de desvalorização dos títulos escolares, como efeito da universalização do ensino básico, e consequente desvalorização salarial para os mais escolarizados (ARCARY, 2010). Tal fato acaba por gerar novos padrões de distinção para obtenção de postos de trabalho e reforça, ainda mais, as desigualdades, se considerarmos que este processo cria uma desvalorização generalizada dos ativos das populações mais vulneráveis.