Revista Rua


O que quer, o que pode um discurso? O que quer, o que pode esta foto?
What a discourse want, what it can do? What this photography want, what it can do?

Viviane Teresinha Biacchi Brust e Verli Petri

[...] o discurso aparece como o lugar onde se instalam as lutas que visam desconstruir pares opositivos do tipo gramatical/agramatical e possível/impossível da língua; é pelo discurso que se luta para que não se institua uma “única interpretação”, “um sentido literal”. É pelo discurso que se luta para que a sintaxe – enquanto superfície – não seja tomada como “plana”, perfeita e bem delimitada, pois a cada aparição o discurso se revela como uma forma de sedução, na qual os efeitos de sentido entre os interlocutores podem ser sempre outros. É pelo discurso que se luta para que a língua seja considerada como elemento essencial, algo que está em pleno funcionamento, inalienavelmente, e só pode ser tomada em suas relações com o ideológico, com o social, com o inconsciente e com o histórico na materialidade discursiva (PETRI, 2006, p. 9).
 
Essas colocações já nos apontam para uma das possíveis respostas ao que pode a Análise de Discurso, a saber, colocar o discurso, na sua gênese, a relação entre sujeitos e sentidos, como algo passível de ser apreendido, pensado, analisado, desconstruído em suas evidências. Afinal, como bem refere Orlandi (2009, p. 22), “a linguagem serve para comunicar e não comunicar. As relações de linguagem são relações de sujeitos e sentidos e seus efeitos são múltiplos e variados”. Conforme a autora (2005, p. 76-77), nessa teoria pensa-se a língua como fato e significa-se o que é social, ligando a língua e a exterioridade, a língua e a ideologia, a língua e o inconsciente. A língua passa a ser vista como uma estrutura não fechada em si mesma e sujeita a falhas. É quando se abre a possibilidade teórica de reintrodução do sujeito e, também por isso, amplia-se o campo dos estudos da linguagem.
A noção de sujeito é uma noção constitutiva da teoria do discurso, pois o sujeito, para se constituir (ou ser constituído), deve se submeter à língua, ao simbólico, ao jogo da língua na história, e o discurso é o que articula esse sujeito. Assim, pensar o sujeito é entender a proposta pechetiana de que o sujeito é parte constitutiva da língua pelo discurso que produz sentidos, afetado pelo simbólico. É preciso considerar também que Pêcheux elabora, dentro da sua teoria materialista do discurso, a noção de formação discursiva, a saber, “aquilo que, numa formação ideológica dada, isto é, a partir de uma posição dada, numa conjuntura dada, determinada pelo estado da luta de classes, determina o que pode e deve ser dito[4]” (PÊCHEUX, 2009 [1975], p. 147), o que significa que o sentido das palavras, expressões, proposições dependem da formação discursiva na qual são produzidas. Afirmam ainda os autores (Id. Ibid.) que “os indivíduos são ‘interpelados’ em sujeitos-falantes (em sujeito do seu discurso) pelas formações discursivas que representam ‘na linguagem’ as formações ideológicas que


[4] Grifos do autor.