Revista Rua


Deslizamento de sentidos por efeito metafórico: o discurso de uma fotografia
Displacement of sense done by a metaphoric effect: the discourse of a photograph

Luciana Leão Brasil

INTRODUÇÃO

Neste trabalho, inspirados pelos estudos, sobre o discurso não-verbal[2], de Eni Orlandi[3], propomos uma reflexão sobre a fotografia, mais especificamente sobre uma fotografia de 1894. Tomando a perspectiva teórica da análise de discurso de linha francesa, procuraremos compreender, segundo Orlandi (2010), “a imagem como discurso”. A autora nos diz que a imagem carrega o deslocamento de sentidos, tem pontos de deriva, incide em outros discursos. Dessa maneira funciona com o verbal na construção da memória discursiva (a memória do dizer).
Partindo dessa conceituação proposta por Orlandi, nos debruçaremos sobre o estudo da fotografia como materialidade significante. Observar o discurso, na opacidade do não-verbal, através da fotografia, faz com que segundo Pêcheux, em O Papel da Memória, o tema da imagem seja revisto:
 
A questão da imagem encontra assim a análise de discurso por um outro viés: não mais a imagem legível na transparência, porque um discurso a atravessa e a constitui, mas a imagem opaca e muda, quer dizer, aquela da qual a memória “perdeu” o trajeto de leitura (ela perdeu assim um trajeto que jamais deteve em suas inscrições). (2007, p.55)
A partir da análise de uma fotografia, pretendemos trazer contribuições para o campo da pesquisa da linguagem, já que é certo que, por meio do não-verbal uma sociedade produz um discurso visual sobre si e sobre o redor, assim tomamos as palavras de Sahlins em Ilhas de História:
 
A história é ordenada culturalmente de diferentes modos nas diversas sociedades, de acordo com os esquemas de significação das coisas. O contrário também é verdadeiro: esquemas culturais são ordenados historicamente porque, em maior ou menor grau, os significados são revalidados quando realizados na prática. (1987, p.07)
 
Antes de iniciarmos a análise, cujo conceito discursivo abordado por nosso estudo é o de feito metafórico, falaremos a propósito do discurso não-verbal que pode manifestar-se sob diversas formas.


[2] O não-verbal constitui-se de diversas formas discursivas, esclarecemos, no entanto, que a forma de que nos ocupamos nessa pesquisa é a fotografia.
[3] Professora no Departamento de Linguística do Instituto de Estudos da Linguagem/Unicamp, Coordenadora do Laboratório de Estudos Urbanos (Labeurb) – Unicamp e Coordenadora do mestrado em Ciências da Linguagem na Univás (MG).