A diferença entre Edigley e Miguel – para além da idade, o primeiro perto dos vinte anos e o segundo já para além dos cinquenta – é que, para Edigley, o seu sonho de mar está fora de onde habita, enquanto que, para Miguel, o sonho é fazer o mar chegar até sua porteira. Uma de suas tantas ideias é fazer do seu depósito de insumos agrícolas, que se encontra embaixo da barcaça de secar o cacau, um espaço para receber pessoas “pra prosear”, dentre elas as da universidade.
Para quem não conhece esses agricultores, os dois são puras simpatias, enquanto Edigley é uma simpatia calada, Miguel é uma simpatia falante, ou melhor, uma simpatia auto-falante.
E de tanto falar de Edigley e Miguel, vamos contar um “causo” que aconteceu na sala única de uma escola situada numa das esquinas de uma quase encruzilhada, daquelas que vale a pena parar para ver o mundo e o tempo passarem, cada qual em sua abertura, em sua velocidade, em sua imagem. Foi no interior desta sala, dia 11 ensolarado de outubro primaveril do ano eleitoral de 2010, que iniciamos a etapa do projeto “Olhares cotidianos...” para a escolha das fotos dos agricultores e das mulheres, esposas ou não, para o livro a ser publicado
[5]. Ficou combinado, de antemão, que os agricultores iriam escolher 10 fotos das 60 pré-selecionadas, de mais ou menos umas 600 que foram produzidas
[6]. Pois bem, dessas 60 ficaram 11 fotos. Só que o combinado foi 10, qual seria a foto que eles iriam tirar?