Para que os agricultores trouxessem os seus olhares imagéticos, suas fabulações, nós aprendemos a ouvi-los antes de sermos ouvidos, a sermos tocados antes de tocá-los, chegando à fala de uma língua mais próxima a ambos, sem a exigência de falarmos a mesma língua. E foi pelo uso da fotografia, desta fala que não se cala ao desespero da velocidade e abertura das lentes-mentes, desta luz que seduz o efêmero a ser eterno, que os logos tradicionais e acadêmicos compartilharam espaços de diálogos, uns aos olhos do outro, uns nos olhos do outro...
(...) Aceitar a diferença, o desigual, admitir o dissenso é o primeiro passo para desmascarar estratégias que, em nome de uma pseudodemocratização dos saberes, homogeneíza a cultura e o conhecimento e reprime o que não se coaduna com a racionalidade dominante, definida como a única possível de dar resposta a todas as questões (LOPES, 1999, p. 97).
Foi nos diálogos dos olhares cotidianos, na diversidade de imagens retratadas, que surgiram respostas a questionamentos e questionamentos a respostas, onde o exercício está no respeitar e ser respeitado, uma vez que as escolhas das fotografias para o livro, feita de forma participativa, propiciou um resgate da auto-estima dos agricultores e fortaleceu a prática dos diálogos construtivos não apenas voltados à resolução de problemas, mas de apreensão do território em que habitam e das diversas cotidianidades regionais, propiciando exercitarem princípios de cidadania.