Mostra de Pesquisas I - Sinalário de Análise de Discurso: possibilidade de significação de um discurso científico e produção de conhecimento por sujeitos surdos.
Gravado em 27/11/2019

Nesta apresentação, busco analisar discursivamente a constituição de um artefato de leitura - um sinalário, em Língua Brasileira de Sinais, com termos recorrentes nos discursos sobre a/da Análise de Discurso (AD), como parte do processo de produção do conhecimento sobre o campo teórico por sujeitos surdos. A construção deste artefato se dá a partir da inexistência de materiais em Libras acerca da AD de base materialista, como também por inquietações, tais quais: como pensar o fazer científico de uma determinada área quando sujeitos diversos (LOPES, 2016) se colocam nesta relação? Como pensar a produção de conhecimento em AD quando a relação dos sujeitos com a escrita que a textualiza é de outra ordem? Como pensar a questão de um saber sobre uma área de conhecimento como a AD, que, no Brasil, está materializado por meio de dicionários, do ensino, de seus programas e de produções escritas, se alguns sujeitos não (se) significam (pela) língua portuguesa? Pensando, então, na necessidade de ajustamento de um discurso científico a si mesmo (HENRY, 1997), após a experiência de ministrar a disciplina de AD para o Curso de Letras-Libras da Universidade Federal do Piauí e observar que meus alunos surdos, (não apenas, mas, principalmente,) por conta da ausência de sinais específicos ou pelo uso de sinais mais comumente utilizados em Libras para determinadas palavras em língua portuguesa, não conseguiam significar nossas discussões, compreender os conceitos, interpretar a própria teoria, me coloquei frente ao desafio de pensar a formulação de um artefato que permitisse que estes sujeitos diversos (se) significassem a/na AD. Para tal, num movimento coletivo de sujeitos surdos e ouvintes (especialistas em AD, Libras e Tradução, alunos e intérpretes), deu-se início ao processo de construção do artefato. Muitos encontros para discussão foram necessários, procedemos ao estudo coletivo da teoria, sinais foram sendo formulados, reformulados, catalogados, fazendo com que o sinalário começasse a se constituir enquanto uma memória sobre a área e sobre a própria língua de sinais, uma vez que já está sendo usado para a interpretação das aulas da disciplina neste semestre e, mais importante, sendo incorporado pela comunidade surda. O que se apresenta, nesse momento, são os resultados de nosso trabalho e uma primeira versão para publicação deste artefato.