Mostra de Pesquisas III - A FOTOGRAFIA ENQUANTO ARTEFATO DE PESQUISA: ANALISANDO NARRATIVIDADES DE TRANSIÇÃO ESPACIAL
Gravado em 28/11/2019

Proponho abordar a fotografia enquanto um artefato da prática de pesquisa em Análise de Discurso, buscando compreender o seu papel na formulação de questões de análise, na montagem de corpus e nas teorizações. Para isso, discuto o modo como a fotografia foi praticada e operacionalizada na análise discursiva de um espaço urbano específico, a saber, plataformas de metrô situadas na Avenida Paulista (estações Brigadeiro, Trianon Masp e Consolação), na cidade de São Paulo. O espaço urbano é considerado enquanto “espaço de interpretação, espaço material concreto que requer gestos de interpretação particulares” (ORLANDI, 2017). Uma série de trabalhos na área tem se voltado ao estudo discursivo de espaços citadinos: espaços públicos, ruas, avenidas, praças, bairros, centro, periferia, instituições, etc. São contempladas também relações entre um ou outro espaço: entre espaços abertos e fechados, entre a casa e a rua, entre periferia e centro, entre urbano e rural, etc. Atentamos aqui para um espaço discursivo de “trânsito”, tendo em vista compreender a passagem do sujeito “em viagem” pelo trem de metrô, até sua “parada”, permanência e saída da plataforma em direção ao entorno das estações. Tomando como objeto de análise o fluxo discursivo que atravessa esses espaços, efetuamos recortes a fim de compreender como o discurso artístico e cultural se apresenta para os frequentadores das estações, interpelando-os como sujeitos e individualizando-os na relação com a alteridade. O procedimento de captura de fotos, com suas possibilidades e limites, afeta a elaboração de questões de análise, assim como as teorizações e os procedimentos metodológicos. As textualidades flagradas, enquadradas e ajustadas por meio da câmera consistem em painéis de divulgação artística e cultural, obras artísticas expostas nos espaços das plataformas e materialidades arquitetônicas que envolvem essas textualidades. No recorte que efetuamos, o artefato fotográfico foi operacionalizado para analisar a narratividade em espaços urbanos: “a narratividade como a maneira pela qual uma memória se diz em processos identitários, apoiados em modos de individuação do sujeito, afirmando/vinculando seu pertencimento a espaços de interpretação determinados, consoantes a específicas práticas discursivas” (ORLANDI, idem). Mostramos que os sujeitos nas plataformas são considerados em uma narratividade de transição espacial, em que se apresentam sentidos de movimento e repouso, os quais são metaforizados no discurso artístico e cultural.