[30/6/2011] Após ter trazido há quatro décadas da França para o Brasil a teoria da análise do discurso, a professora Eni Orlandi, do Departamento de Linguística do Instituto de Estudos da Linguagem (IEL) da Unicamp, recebe homenagem de pesquisadores de todo o país. Com mais de 270 inscritos, o Seminário Interinstitucional de Análise de Discurso, realizado no IEL até esta sexta-feira (1) é dedicado à docente da Unicamp.
“Esse é um evento em que estamos homenageando uma pessoa viva. Porque no Brasil se homenageiam pessoas mortas. Essa homenagem a Eni é fundamental porque ela é esse divisor de águas de uma linguística mais tradicional para uma linguística completamente implicada no social. A Eni é singular dentro da história da ciência da linguagem da América Latina”, afirmou Amanda Scherer, coordenadora do Laboratório de Fontes de Estudo da Linguagem (Corpus), da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), que organiza o evento em parceria com o Laboratório de Estudos Urbanos (Labeurb) do IEL da Unicamp.
Para a pesquisadora Cristiane Dias, do Labeurb, Orlandi trabalhou arduamente para que esta teoria sobrevivesse no âmbito da linguística, “que é uma ciência mais dura, que trabalha com a língua enquanto sistema. A análise do discurso vai romper um pouco essa ideia de língua enquanto sistema e vai trabalhar um pouco com as falhas da língua. É difícil sustentar isso e a Eni montou esse grupo que está espalhado pelo Brasil todo”, revelou.
Ainda de acordo com Cristiane o evento é o primeiro, neste porte, no Estado de São Paulo. “Fizemos um mapeamento por estados e temos pesquisadores do Rio Grande do Sul até Manaus”, conta. O objetivo, segundo ela, é discutir como a análise do discurso tem se configurado no país atualmente. “A análise do discurso é uma teoria que trabalha com diferentes materialidades discursivas. Ela tem uma relação forte entre a língua e a história. Esse é o ponto chave da análise do discurso. E presta atenção numa coisa que dificilmente a linguagem considera, que é a ideologia”, explicou.
Sobre a teoria, a homenageada Eni Orlandi explica que quando começou os estudos no país na década de 70 vivia sob o contexto político e social da ditadura militar. “Embora não fosse um momento político favorável para isso, era, ao mesmo tempo, muito estimulante. Percebíamos uma necessidade premente de não sermos indiferentes a essa questão do político na linguagem. Tudo que se passava naquele momento nos levava a isso e a necessidade de que as pessoas compreendessem como a linguagem estava investida. É muito relevante o fato de a análise do discurso trazer a possibilidade de você pensar qualquer discurso no momento em que ela está se realizando”, contextualizou.
Dizendo-se alegre e satisfeita pela homenagem, Eni ressaltou que o encontro reúne trabalhos que primam pela excelência e que, portanto, “mostra que esse meu esforço em trazer alguma coisa que eu acredito profundamente do ponto de vista teórico e político criou raízes, cresceu e está dando seus frutos”.
Precursora da análise do discurso no país, Eni Orlandi é homenageada
Fotos:
Antoninho PerriEdição das imagens:
Everaldo Silva