A MPB no regime militar: silenciamento, resistência e produção de sentidos


resumo resumo

Olimpia Maluf-Souza
Fernanda Surubi Fernandes
Ana Cláudia de Moraes Salles



sentidos não sejam sequer produzidos, sem que os sujeitos reconheçam isso, o que remete ao esquecimento nº 1 discutido por Pêcheux, do nível ideológico[1].

Nesse movimento pensamos a censura em uma indispensável relação com a metáfora, porque a censura é um espaço no qual reside a inclinação ao equívoco e, assim, à volubilidade significativa. A metáfora é amplamente discutida nos estudos linguísticos e é normativamente compreendida como a utilização de uma palavra que se afasta do seu sentido “normal”. Na Análise de Discurso, questionaremos exatamente a denominada “normalidade” dos sentidos que captura os sujeitos, pois até mesmo a metáfora, conhecida amplamente como uma noção que produz o plurissignificativo, é limitada em sua definição. Queremos dar visibilidade, aqui, à metáfora não apenas como constitutiva na poesia – já que quando remete-se à essa figura, logo é posta na ordem literária – mas como imanente à linguagem em todas as suas modalidades e manifestações, o que concorda com as reflexões de Gadet e Pêcheux (2010), quando dizem que não há linguagem própria à poesia, como se tivéssemos que nos assujeitar à uma outra categoria de linguagem para produzirmos o poético.

Quanto a esse simplório pelo qual a metáfora, muitas vezes, é estigmatizada, Lacan (1999, p. 36) afirma que esta “[...] não é uma injeção de sentido, como se os sentidos estivessem em algum lugar, fosse onde fosse, num reservatório”, isto é, num compartimento que seria aberto no momento em que se pretendesse edificar a transferência de sentidos e a não correspondência convencional entre significantes e significado. Essa é uma tomada muito prática da metáfora, que pretere a sua complexidade simbólica e da qual, por conseguinte, nos afastamos.

Em nosso trabalho observamos o efeito metafórico como aquilo que permite a falha e o desprendimento dos sentidos; que confunde, que intransparece e que causa suspeição. E que mesmo sendo muitas vezes propositalmente utilizada, funciona independentemente das intencionalidades do sujeito, aos seus discursos serem propagados. Assim, temos a metáfora pelo inconsciente, que é constituído por linguagem.

Portanto, o conceito de metáfora nos embasa no desenvolvimento de nosso trabalho e imbrica-se, como dissemos, não só à censura, mas também à falha na língua ocasionada pelo equívoco produzido quando a língua toca a história ou, mais



[1] Segundo Pêcheux (2009), o “esquecimento nº 1” é aquele em que o sujeito se coloca como origem de tudo o que diz.