A língua, os museus e os espelhos


resumo resumo

Larissa Montagner Cervo



Com o Mundolingua, o engodo da determinação de sentidos sobre começos e origens se repete, com a diferença de que a tessitura do imaginário de origem e naturalização da identidade pela língua, nesse caso, vai passar do estatuto de uma língua em específico para um projeto ousado sobre o estatuto da linguagem verbal tomada em sentido amplo. O Mundolingua é uma espécie de livro didático e ilustrado sobre a natureza da linguagem verbal e sobre a sua materialização em diferentes línguas, livro esse composto por discursos da ordem do religioso e da divulgação científica, os quais são expostos ao visitante por vezes, banalizados – como forma de explicação sobre questões de origem, unidade e variação.

Localizado no anexo da igreja Saint-Sulpice, em Paris, o museu é organizado em dois andares e cinco seções denominadas continentes. No primeiro andar, encontramos dois Continentes: Linguagem e Brincar com as palavras. O espaço expositivo mescla formas de representação diversas com monitores interativos, cujos textos são disponibilizados em seis línguas: inglês, espanhol, francês, russo, chinês e árabe. Os temas predominantes constituem uma forma de explicar ao visitante a constituição da linguagem verbal como o que singulariza a espécie humana: o que é a língua, o que é a linguagem verbal, os sons da linguagem, a aquisição da linguagem verbal, a aquisição de segunda língua, por que as variações linguísticas ocorrem, como se estrutura o alfabeto fonético internacional, qual a diferença entre linguagem verbal e linguagem não humana, entre outros assuntos correlatos. Nas definições apresentadas nesses setores, o que chama a atenção é a recorrência ao dizer do outro, à heterogeneidade mostrada (cf. conceito de AUTHIER-REVUZ, 2004), a qual inscreve sentidos de cientificidade ao discurso de divulgação.

No subsolo, situam-se os outros três continentes: Línguas, Brincar com as palavras e Novas Tecnologias e Linguística. A organização do espaço é a mesma e os temas desses setores são línguas inventadas, provérbios, linguagens criptografadas, humor, línguas do mundo, línguas em perigo, Braille, linguagem e sociedade. Além desses tópicos, outros que remetem à tese da origem divina da linguagem estão presentes, como línguas e religião, escrituras do mundo, línguas sagradas, entre outros que se destacam desde a escadaria de acesso ao subsolo pelo fato de serem introduzidos por molduras de diferentes trabalhos artísticos sobre a Torre de Babel, representativa do mito da origem da linguagem e das línguas oriunda do discurso bíblico. Em termos de formulação discursiva, nesse segundo grande setor expositivo a heterogeneidade