Política de línguas, circulação de jornais e integração em cidades-gêmeas da fronteira.


resumo resumo

Andréa F. Weber



mesmo tempo, produtores e reprodutores desse sentimento, de modo que, o compartilhamento das mesmas informações produziria um imaginário de pertencimento a um lugar, que pode ser o lugar do nacional ou o lugar do transfronteiriço.

Pode-se dizer que a imprensa da fronteira contribui para a integração transfronteiriça ao ajudar a criar, no imaginário social, uma ideia de “local”. Segundo Peruzzo (2003), o local se constitui num espaço característico constituído por partes que se relacionam, mas que ora se identificam, dependem umas das outras, e ora são excludentes. No entanto, o local, ao mesmo tempo em que não permite a demarcação exata de limites, também carrega o sentido de um espaço determinado, de um lugar específico, no qual o sujeito se sente inserido e partilha sentidos com seus semelhantes. Quanto aos jornais locais, segundo Dornelles (2005), eles se caracterizam por ter uma área de abrangência mais restrita, localizada, e manter vínculos muito próximos com sua comunidade de leitores. Assim, a imprensa de fronteira, apesar do público internacional que pode possuir, funciona como uma imprensa local.

O local na fronteira pode incluir apenas as cidades brasileiras próximas ou pode envolver, também, as cidades internacionais adjacentes. Jornais publicados na cidade brasileira de Uruguaiana, no início do século XX, por exemplo, abrangiam uma área cujos municípios estavam distantes cerca de 500 quilômetros um do outro, circulando de São Borja a Jaguarão, também cidades brasileiras. O jornal uruguaianense A Voz do Povo, por sua vez, em 1905 trazia como slogan “A Voz do Povo é a folha de maior circulação na Fronteira do Alto Uruguai”. Ou seja, o local se delimitava pela própria condição de ser fronteira brasileira, o que significa que essas cidades geograficamente distantes convergiam em uma unidade social, política, econômica e cultural.

Hoje, o local dos jornais fronteiriços é geograficamente mais restrito, em razão do maior número de municípios e habitantes, bem como da maior quantidade de jornais em funcionamento. Desse modo, podemos encontrar, em quase todas as cidades limítrofes platinas, pelo menos um jornal nelas editado, isto é, cuja empresa jornalística está sediada na cidade, com funcionários que ali residem e contando com assinaturas e anúncios da comunidade local. Esses jornais costumam circular no lugar em que estão sediados e nos municípios do seu entorno imediato. A pesquisa identificou que apenas três (Chuí, Paranhos e Coronel Sapucaia) das 20 cidades investigadas não possuíam produção local de um jornal impresso no momento da coleta dos dados (Ver Quadro 1).