A MPB no regime militar: silenciamento, resistência e produção de sentidos


resumo resumo

Olimpia Maluf-Souza
Fernanda Surubi Fernandes
Ana Cláudia de Moraes Salles



nessas circunstâncias, rememora os vários movimentos históricos considerados revolucionários, mas que, em grande parte, se contrapõem à natureza revolucionária militar. Conforme Indursky (1997, p. 103), a palavra “[...] ‘revolução’ nesse contexto produz uma grande ilusão discursiva, pois joga com o sentido que esse termo adquiriu com a Revolução Francesa”, que se caracterizou pela derrubada do absolutismo monárquico pelas classes trabalhadoras oprimidas. Assim, nesse diferente cenário econômico, os militares, compreendendo as classes abastadas mercantilistas como o povo, começaram a agir em seu nome, enquanto os protestos dos demais – que também são povo, mas que são convenientemente esquecidos – têm sua “[...] voz silenciada e substituída por um simulacro da voz do povo” (Ibidem, p. 106) em sua coletividade, criando uma versão deturpada e manipulada dos anseios populares, ao produzir a unificação de vontades desse povo, que nunca foram as mesmas.  

Observamos com esses acontecimentos, que no momento em que as massas visionavam perspectivas de mudanças, de possíveis melhorias de ordem pública, são bruscamente arrastados para uma nova administração que se mostraria, por muitos anos, como irredutível.

A Ditadura Militar do Brasil vigorou por pouco mais de duas décadas (1964-1985). Nesse período o país teve cinco presidentes: Castelo Branco, Costa e Silva, Médici, Geisel e Figueiredo, todos generais, portanto, ocupando altos cargos nas Forças Armadas e eleitos, supostamente, através de votos indiretos dos congressistas. Todavia, a sucessão na presidência terminava por ocorrer apenas entre a junta militar que oprimia e manipulava tanto o Congresso quanto os partidos políticos ainda existentes (FORNAZIERI, 2010). Durante a administração desses governantes foram instituídos dezessete Atos Institucionais que conferiam legitimação e legalidade às ações militares, como também, diversos Atos Complementares e Atos Excepcionais, que seriam incabíveis de acordo com as constituições pré-estabelecidas no Brasil. Essas ações eram disseminadas pelos presidentes e seus apoiadores, enquanto medidas necessárias de exceção, com vistas a repelir a sombra comunista e promover a reedificação da democracia. Por esse funcionamento

 

[...] os presidentes se veem e desejam ser vistos [como]: soldados convocados para cumprirem uma missão militar, a de salvar a pátria ofendida e ameaçada. Esta imagem, construída nos discursos presidenciais, aponta para o assujeitamento do soldado as decisões hierarquicamente superiores (INDURSKY, 1997, p. 59).