A MPB no regime militar: silenciamento, resistência e produção de sentidos


resumo resumo

Olimpia Maluf-Souza
Fernanda Surubi Fernandes
Ana Cláudia de Moraes Salles



regramento, sua solidez, seu controle o que encontramos são furos que não podem ser tapados e arestas que não podem ser aparadas, pois são essas irregularidades que cumprem a natureza da língua e que permitem seu funcionamento inquieto.

 

4. Considerações finais

As análises realizadas nos permitem afirmar que não há nada que garanta a tutela dos sentidos intencionados pelos sujeitos, entretanto, todos nós somos interpelados por uma ideologia que nos dá a ilusão constitutiva de que somos a fonte e a origem do dizer e de que o que dizemos tem apenas o sentido pensado por nós. Procuramos, assim, singularizar uma língua que é incompleta e que funciona por essa incompletude, por esses equívocos que se inscrevem na língua continuamente.

Observamos esses sentidos em funcionamento na música Flamengo Até Morrer, pois, como vimos, trata-se de uma música que foi composta com a intenção de construir uma crítica feroz ao regime e que, paradoxalmente, foi interpretada como louvadora do país e dos seus gestores.

Compreendemos o paradoxo que se causou entre a intenção do autor e os efeitos produzidos pela música como modos de interpretações de sujeitos interpelados por uma dada ideologia que

 

[...] fornece as evidências [...] que fazem com que uma palavra ou um enunciado ‘queiram dizer o que realmente dizem’ e que mascaram, assim, sob a ‘transparência da linguagem’, o [...] caráter material do sentido das palavras e dos enunciados. (PÊCHEUX, 2009, p. 146)

 

Desse modo, como diz Pêcheux, percebemos que a língua não é transparente e que uma palavra ou um enunciado não significam a partir de um sentido apenas seu, que não pode ser mudado e que esteja preso ao literal. A língua funciona, portanto, pelo atravessamento necessário da historicidade e da memória, que resultam em formulações de discursos e de sentidos cortados pela falha. Essa “[...] irrupção do equívoco afeta o real da história, o que se manifesta pelo fato de que todo processo revolucionário atinge também o espaço da língua [...]” (GADET; PÊCHEUX, 2010, p. 64), do mesmo modo como pôde ser visto com a Ditadura Militar do Brasil, que produziu efeitos em todo espaço linguístico da época, como nos foi mostrado nesse trabalho mais especificamente com a música. O que podemos dizer então, é que a tentativa de instituição de um mecanismo de censura governamental foi frustrada e ineficiente, pois a partir do momento que compreendemos que o sujeito não só tece interpretações, mas é resultado