Política de línguas, circulação de jornais e integração em cidades-gêmeas da fronteira.


resumo resumo

Andréa F. Weber



donde hay puentes para el transporte terrestre sobre el río Uruguay, con puestos policiales y aduana a ambos lados de la frontera, la población es monolingüe o bilingüe castellano-portugués sin mezclar las lenguas; en cambio, donde hay “frontera seca” o se cruza el río mediante botes o balsas desde hace muchas generaciones –en actividades entre las que no se puede descartar el contrabando a pequeña escala– se forma el portuñol.

 

Na integração transfronteiriça, os jornais atuam de um modo muito relevante, reforçando sentidos de convergência ou divergência constituídos nesse espaço. Diversos estudos têm se dedicado à discursivização efetuada por jornais fronteiriços, em suas notícias, sobre a cidade internacional vizinha, sobre a integração regional, sobre a ideia de fronteira, entre outros temas, dos quais podemos citar os de Grimson (2002), Muller (2003) e Raimondi e Weber (2011). Contudo, entendemos que, para além do “discurso sobre” presente no noticiário (Mariani, 1996), um dos modos pelos quais os jornais produzem sentidos e atuam sobre a integração fronteiriça se dá por meio de sua circulação para aquém ou além da linha divisória, contribuindo, assim, para um sentimento de comunidade, que seria reforçado pelo compartilhamento das mesmas notícias, das mesmas histórias de ficção, da mesma língua, à semelhança do que já postulava Anderson (2008), para a formação das nações europeias. 

Em termos de práticas linguísticas, a fronteira platina constitui um continuum que vai do Rio da Prata até terras paraguaias, apresentando diversificadas situações de contato e intercâmbio entre as línguas espanhola, portuguesa e guarani, bem como entre as diversas línguas de imigração que compõem a matriz étnica local (STURZA, 2005). Em geral, o lado brasileiro da fronteira apresenta uma predominância do português como língua materna, ainda que com influência do espanhol no léxico e na fonética-fonologia, observando-se situações de contato linguístico mais intensas nos lados uruguaio, argentino e paraguaio. Já no que tange ao reconhecimento das línguas pelos Estados Nacionais, o português é língua oficial e nacional do Brasil; a língua espanhola é nacional e oficial na Argentina, Paraguai e Uruguai; e a língua guarani é co-oficial no Paraguai.

As cidades-gêmeas são também aquelas que figuram entre os pontos de mais intenso contato entre as línguas portuguesa, espanhola e guarani, na região platina. Nelas, essas línguas, especialmente o português e o espanhol, estariam mais propensas a funcionar como línguas de interface, isto é, como pertencentes a um conjunto de representações histórico-sociais e interculturais que as identificam como tais e que, por isso, se organizam politicamente para significarem a fronteira nos seus variados aspectos (Sturza; Fernandes, 2009).