A língua, os museus e os espelhos


resumo resumo

Larissa Montagner Cervo



Um pouco sobre museu e arquivo

O museu é uma instituição de poder, entre outras, encarregada pela memória de arquivo, aquela definida por Orlandi como a “que as Instituições (Escola, Museu, eventos etc.) praticam, alimentam, normatizando o processo de significação, sustentando-o em uma textualidade documental, contribuindo na individualização dos sujeitos pelo Estado” (2006, s/p). Sua razão sócio-histórica encontra seu mais importante fundamento no fato de que não revivemos nossas memórias o tempo todo, já que nossa memória é esburacada, tal como nos ensina Pêcheux (1999). Assim, nós precisamos de suportes de memória que se prestem à ‘vigilância’ das nossas lembranças para que elas não sejam esquecidas, perdendo-se no tempo. Nora (1997) conceitua tais suportes como lugares de memória, lugares que constituem arquivo, aqui entendido como o conjunto de objetos simbólicos que significam pelos conteúdos imaginários daquilo que guardam e que, tão somente, ressignificam enunciados já-ditos, a partir de uma interpretação do passado que encaminha para o presente e para o futuro. Em outras palavras, lugares cujo mote de significação parte de uma vontade de memória (Ibid.), memória esta na qual os lugares de memória se inscrevem para se constituir e em relação à qual também promovem uma dada naturalização no nosso cotidiano, muito embora os lugares de memória não parem o tempo, tampouco, como afirma o autor (Ibid.), fixem um estado de coisas. 

Em relação ao arquivo, entendemos que a prática de constituição destes em museus é também uma prática que corrobora com o processo de temporalização da memória coletiva, de regência do passado (ROBIN, 1989) em relação ao presente e ao futuro. Em museus, buscamos coisas-a-saber, noção que aqui abrange histórias, imagens, provas materiais, personagens principais, referências e testemunhos afins que, via arquivo, inventariam nossa história, ancorando-nos no espaço-tempo de nossa constituição cidadã. Por essa razão, nem todo tema histórico ou objeto simbólico é passível de se transformar em objeto de museu, apenas aqueles legitimados em termos de memória histórica e coletiva. Tais objetos são apontados por Teixeira Coelho (2004) como pontos altos de uma cultura, e uma vez organizados e disponibilizados em exposições que contam histórias sobre determinadas memórias, passam a fazer parte de um processo de politização de lembranças (CHAGAS, 2002), processe este em que o arquivo significa como fronteira política e material do que lembrar e do que esquecer.

A questão do arquivo é essencial para pensarmos o processo de constituição de um museu. Uma definição que consideramos elucidativa é a seguinte: