A MPB no regime militar: silenciamento, resistência e produção de sentidos


resumo resumo

Olimpia Maluf-Souza
Fernanda Surubi Fernandes
Ana Cláudia de Moraes Salles



resolverParece que finalmente, resolvemos o dilema, Dario e Doval jogando juntos sem problema –, qual seja, escolher a escalação e a posição de dois jogadores, Dario e Doval e não a de se posicionar politicamente contra um regime de massacre.

Na mesma direção, o que parece revelar, na música, a escalação do Flamengo – Rogério na direita, Paulinho na esquerda. Dario no comando. E Fio na reserva –, produz efeitos que metaforizam posições políticas: ser de esquerda, de direita, estar no comando, estar na reserva. Ou seja, o efeito produzido pela música diz também de posições políticas assumidas diante do regime, pois diz daqueles que estão com o governo: os de direita, os que estão no comando; e dos que estão contra, os de esquerda, os na reserva. Pelo deslizamento metafórico, vemos como música e letra são, ao mesmo tempo, um apelo à evidência e à resistência. É, pois, esse efeito contraditório da música que faz com que ela seja liberada, considerada ufanista, adesista, etc.

A crítica sutil que a música faz ao processo de alienação pelo futebol, atinge, inclusive, ao presidente do país – Até o Presidente é Flamengo até morrer / E olha que ele é Presidente do País, pois faz alusão ao Presidente militar, Médici, que não perdia um jogo do Flamengo, acompanhando todos os lances, colado ao seu radinho de pilha. Ou seja, a eficácia da alienação pelo futebol era tão considerável que até mesmo o comandante de toda a opressão se deixava levar por ela.

Ainda no que diz respeito ao clube elegido para destaque na canção, questionamo-nos sobre o porquê de o time ser carioca e não paulista, já que ambos os estados possuem homogeneidade compatíveis e semelhantes no que tange à conquista de títulos e reconhecimento. Compreendemos que por o Rio de Janeiro ser o lugar onde surge a Bossa Nova, o Samba, o Carnaval, pelos quais o Brasil tem grande êxito no exterior; e por ser o cartão postal do país, em razão das suas belezas naturais, que exportam uma imagem paradisíaca e que colocam o Brasil em posição privilegiada, objetiva-se, com a escolha do Rio de Janeiro, a edificação de uma fachada de um país com atributos aparentemente estonteantes, mas que na verdade esconde as mazelas trazidas pela administração tirana. Temos a alegria, o talento e a beleza física, representados pelo Rio, tentando mascarar o desespero e o arruíno. Portanto, nenhuma cidade brasileira congrega, ao mesmo tempo, tamanha contradição, pois é a cidade do moderno e do antigo, das belezas naturais e das artificiais, dos edifícios modernos/das mansões e dos morros/favelas, das gritantes diferenças sociais e econômicas, do samba, do carnaval, das mulheres belas e desnudas, do time de maior torcida/maior alienação, o Flamengo.Â