Política de línguas, circulação de jornais e integração em cidades-gêmeas da fronteira.


resumo resumo

Andréa F. Weber



Levando em conta, agora, apenas os jornais que indicam sua área de circulação, apreendemos que sete dos que usam somente a língua portuguesa circulam exclusivamente no lado brasileiro. São eles os jornais A Folha Regional, Diário da Fronteira, Folha de Itaqui, Folha de São Borja, A Gazeta do Povo, Tribuna Regional e Tribuna da Fronteira, a maioria editada em cidades da fronteira com a Argentina e o Paraguai. Isso reforça a ideia anterior de que existe uma sobreposição entre língua e nação: se o jornal é brasileiro e sua circulação se dá apenas no lado brasileiro da fronteira, a língua autorizada para esse espaço de enunciação é a portuguesa. Assim, se o jornal projeta uma comunidade local-fronteiriça que envolve cidades do Brasil e que exclui as do país vizinho, a língua portuguesa se inscreve como marca política dessa divisão.

A língua espanhola é mobilizada em conjunto com a portuguesa por seis desses 17 jornais fronteiriços. Em cinco casos, trata-se de jornais transfronteiriços, isto é, que incorporam na sua abrangência as cidades dos países limítrofes. São eles os jornais Manchete Regional, A Plateia, Folha de Quaraí, Folha Barrense e Jornal da Fronteira, todos produzidos em cidades da fronteira do Brasil com o Uruguai e a Argentina. Assim, se visualizarmos o Quadro 2 como quem olha a fronteira platina de sul a norte, concluiremos que nas áreas mais ao sul, especialmente, na parte mais meridional dessa fronteira, o fluxo das línguas portuguesa e espanhola se dá de modo mais acentuado entre os dois lados da linha divisória, entre as cidades-gêmeas, por meio da enunciação dos jornais. O espaço de enunciação dessas comunidades transfronteiriças seria, portanto, um espaço mais plurilíngue que o das demais cidades-gêmeas no registro escrito, especialmente no jornalístico.

Nesses jornais transfronteiriços e bilíngues, o fato de circular “do outro lado” significa incorporar a língua do “outro país”, nesse caso, a espanhola. Novamente, parece haver uma sobreposição entre língua e nação, mas, agora, relacionada à língua espanhola: cidades fronteiriças uruguaias, argentinas e paraguaias constituem espaços de enunciação da língua espanhola, ainda que limítrofes com o Brasil, geminadas, integradas e formando um local-transfronteiriço. Assim, se, por um lado, o incorporar as cidades geminadas vizinhas à área de circulação do jornal e incluir a língua espanhola à enunciação jornalística pode constituir um fator de integração local, por outro, tal integração parece não apagar a relação política da cidade com a nação em que se insere e da nação com sua língua nacional.