A MPB no regime militar: silenciamento, resistência e produção de sentidos


resumo resumo

Olimpia Maluf-Souza
Fernanda Surubi Fernandes
Ana Cláudia de Moraes Salles



pedra” da música de Tom Jobim, também composta em período ditatório. O segundo verso, ao dizer que crescemos e já deveríamos saber que uma vez flamenguista, sempre flamenguista, permite-nos compreender essas sentenças como uma chamada, um alerta aos brasileiros, para atentarem-se e aprenderem que algo deve ser feito a respeito dessa opressão.

Esse mesmo dizer produz, ainda, efeitos de conformismo, a gente já cresceu, e é tempo de aprender, ou seja, agora é tempo de conformar-nos e continuar sendo Flamengo até o fim. Como dito anteriormente, remete ao slogan Brasil: Ame-o ou deixe-o, pois diz que o brasileiro nunca deve mudar de time, ou seja, nunca deve mudar a posição a qual está submetido: a de acomodado e oprimido pela ditadura. Assim, percebemos a ambiguidade presente na música, o porquê da mesma ser liberada pelos censores e também a razão de outros autores tomarem-na como ufanista, causando contragosto aos compositores, como se verá a seguir.

Desse modo, apesar de todas essas possíveis formulações que sugerem críticas ao regime, a música não só é liberada pela DCDP, mas também interpretada como ufanista.

Esse acontecimento se marca pela entrevista de Marcos Valle, cedida ao Correio Braziliense, em 2010, na qual o cantor coloca qual foi o sentido que intencionava atribuir à música e que reação imaginava que esta provocaria.

 

(07)   Entrevista Marcos Valle (2010)

A gente achou que a música daria uma confusão do cacete [...]. O narrador é o brasileiro totalmente alienado. Os jogadores entram na música como um exército convocado pela ditadura [...].

 

 

Como se pode notar na entrevista, Marcos compôs a música para falar da alienação que o brasileiro mantinha, através do futebol, ao portar-se de forma alheia aos problemas políticos do país. Tendo composto a música com o propósito de protestar contra a alienação do povo brasileiro frente aos desmandos da ditadura, o compositor acreditou que sua letra ocasionaria uma grande confusão e que seria, certamente, vetada.

A escolha do clube também não é aleatória, pois basta compreender que o autor, um torcedor do Botafogo, escolheu o Flamengo por se tratar do time que tinha/tem a maior e uma das mais apaixonadas torcidas brasileiras. Assim, naquele período, a alienação do brasileiro pelo futebol fazia com que tivesse apenas um dilema a