A língua, os museus e os espelhos


resumo resumo

Larissa Montagner Cervo



diversidade e o multilinguismo seriam ou apagados ou tomados como degradação. Esse entendimento, antes de se constituir como uma explicação plausível do arranjo de sentidos operado pelo Mundolingua, encaminha-nos a uma teoria de subjetivação do sujeito pela via da determinação, a qual penderia muito mais para uma ‘fatalidade mecânica’ (cf. ORLANDI, 2001) do que para processo sócio-histórico.

A respeito da proposição chomskyana, se a linguagem fosse um órgão mental, afirmam Gadet e Pêcheux (2004, p. 208) que “ela seria condenada – enquanto o Estado não desaparecesse – a ser apenas uma peça lógica da atual máquina de Estado, uma incrustação específica de seu poder, inexoravelmente instalada na máquina de nossas cabeças”. De outro modo, se a linguagem fosse obra divina, ela sempre estaria a serviço de Deus e da salvação da alma, o que justificaria, no caso de nossa análise do Mundolingua, por exemplo, a definição de língua sagrada como uma língua que transcende a ordem humana e a ordem das línguas vernaculares, o que apresentamos a seguir apenas a título de ilustração (Imagem 1):

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Imagem 1 – Definição de Língua Sagrada no Mundolingua. Fonte: Arquivo pessoal.

 

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Imagem 1 – Definição de Língua Sagrada no Mundolingua. Fonte: Arquivo pessoal.

 

O efeito de universalidade é construído no gesto de silenciamento do político, pela anulação e absorção das diferenças em prol de um núcleo comum. Com a universalização, tira-se a falha e o equívoco da ordem da língua e, portanto, a inscrição na história e a relação com o sujeito para significar. Em relação ao nosso interesse por museus, é, mais uma vez, no apagamento da história que reencontramos o espelho, desta vez como uma instalação anexa a um painel (Imagem 2) representativo da anatomia da cabeça humana. O painel ilustra um produto ao mesmo tempo da ciência, pela representação, e da natureza, por aquilo que é da ordem do biológico e, também, do cognitivo, se considerarmos que, na altura do cérebro, encontra-se um espelho, que permite ao sujeito se ver como reflexo da mente.