Política de línguas, circulação de jornais e integração em cidades-gêmeas da fronteira.


resumo resumo

Andréa F. Weber



Assim, propõe Sturza (2006), o sujeito enunciador fronteiriço funciona como figura política que se move entre duas línguas, afetado pelo imaginário da fronteira como limite entre dois mundos, onde começam, mas também terminam os domínios de uma e outra prática linguística (STURZA, 2006).

Dessa forma, no espaço de enunciação fronteiriço é possível o transbordamento das línguas para além das fronteiras nacionais. Mas, diferentemente do que ocorre em um espaço de enunciação transnacional, em que as línguas ultrapassam a fronteiras nacionais sem desvincularem-se simbolicamente do Estado-nação que representam (Zoppi-Fontana, 2009), na fronteira, o apagamento da relação Estado-língua é potencialmente possível, na prática cotidiana de contato entre as línguas que conformam o local. Nesse sentido, quanto mais integradas são as cidades fronteiriças, menos as suas línguas remeteriam ao Estado-nação ao qual se vinculam como nacionais ou oficiais; mais elas se significariam como línguas de fronteira no imaginário local.

Se voltarmos a observar a circulação dos jornais fronteiriços apresentada no tópico anterior, relembraremos que, dos 17 jornais estudados, oito circulam apenas no lado brasileiro e cinco para além da divisória internacional. A questão que se coloca, agora, é qual ou quais línguas esses jornais usam para enunciar. Afinal, as línguas mobilizadas pelo jornal são aquelas que os veículos projetam como sendo da comunidade local-fronteiriça por eles delimitada, recorrendo, nos termos de Orlandi (2008), a um mecanismo de antecipação de seu interlocutor. Esse mecanismo refletiria as línguas que estão politicamente aptas a circular nessa comunidade fronteiriça. O quadro a seguir (Quadro 3) descreve esses usos, a partir da análise da presença das línguas nos exemplares selecionados para este estudo.