A língua, os museus e os espelhos


resumo resumo

Larissa Montagner Cervo



explicações inscritas na perspectiva do universal são apenas formas abrangentes de reduzir o que não pode ser nem é limitado.

Assim é que, no Mundolingua, a perspectiva da natureza faz funcionar a contradição no interior do arquivo, silenciando a falta de fecundidade científica do próprio tema em pauta para dar lugar a um jogo de poder: tratar de questões de origem para tentar explicar a natureza é apenas um pretenso modo de tentar determinar um ponto nada linear na linha do tempo, a partir de sentidos que saturam a própria incompletude da história. E no entremeio desses arranjos, resta, inerte, mais uma vez, a historicidade das línguas, como algo, ainda, não historicizado por museus.

 

A problemática dos espelhos

Lá onde o fato histórico falha, a via genética podia ser a única resposta, afirma Auroux (2008). Conforme o autor, temporalmente, é a teoria do inatismo a substituta natural da teoria da linguagem divina. Ao fazer essa observação, Auroux (Ibid.) refere-se a pensadores do século XIX[6] que vão produzir interpretações outras em relação a pressupostos teóricos do século XVIII. No século XIX, um dos grandes representantes da teoria é Chomsky, cuja referência marca, para Auroux, um retorno à perspectiva do transcedentalismo a partir dos universais linguísticos.

No campo do inatismo, a naturalização se dá como fundamento biológico, o que reduz a linguagem a um subproduto da inteligência humana e, ao mesmo tempo, tira a autonomia do sujeito, cuja criatividade não é uma construção das práticas sociais na e pela história, mas resultado de natureza produtiva (AUROUX, 2008). Em outras palavras, a questão biológica não deixa de dar a entender que continua não sendo o homem que faz, pois é a natureza que o possibilita. Além disso, por meio dela retoma-se o estudo da gênese como o estado inicial das línguas, mas a grande prova de que as questões de origem não tem fecundidade científica é a própria questão de aquisição: o inatismo resolve o estado inicial com a tese da pré-disposição para a aprendizagem, mas a verdade é que ninguém fala nem aprende sem que lhe seja ensinado (Ibid.).

Teoria do inatismo e teoria divina, são, no interior de seus próprios campos de conhecimento, teorias inscritas no princípio da universalidade. Em uma ou em outra, o geral que se particulariza e se desdobra em línguas no plural conserva uma natureza comum que toma forma em diferentes línguas, seja por uma gramática universal como formula Chomsky, seja por obra divina. Nesse processo de desdobramento, a



[6] A exemplo de Humboldt, Steinthal, Heise e Renan, entre outros (AUROUX, 2008, p. 42, nota 71).