Política de línguas, circulação de jornais e integração em cidades-gêmeas da fronteira.


resumo resumo

Andréa F. Weber



dois lados da linha divisória e, como destacam Sturza e Fernandes (2009), mais elas funcionariam como línguas de interface.

Mais do que isso, contudo, as línguas mobilizadas pelos jornais em suas publicações são sinalizadoras de um imaginário sobre as línguas e sobre a fronteira que está presente nesse espaço e que os jornais, ao circularem, ajudam a produzir e a reproduzir, simultaneamente. Essa área de circulação dos jornais é, nesse sentido, um espaço de enunciação. Guimarães (2005) os descreve como espaços de funcionamento de línguas, nos quais elas se dividem, redividem, se misturam, desfazem e transformam por uma disputa incessante. Segundo ele, é nos espaços de enunciação que os falantes se constituem como sujeitos divididos por seus direitos ao dizer e aos modos de dizer. Resumidamente, a partir da perspectiva desse autor, sujeitos falantes distribuem as línguas em categorias, gerando subdivisões políticas, que organizam a própria política de línguas em voga em um determinado espaço enunciativo. A política de línguas é, desse modo, aquela constituída por processos institucionais menos evidentes, presentes de forma implícita nos usos diferenciados (e que produzem diferenças) das línguas (ORLANDI, 2002). Sendo assim, jornais de fronteira ao relacionarem línguas a áreas de circulação evidenciam uma política de línguas para as cidades fronteiriças.

Encontramos um exemplo do funcionamento da noção de distribuição política das línguas na obra de Guimarães: tomando como objeto o espaço de enunciação brasileiro, Guimarães (2003) conclui que nele funcionam o português (língua oficial, nacional e língua materna da grande maioria da população), línguas indígenas, línguas de imigração, línguas de fronteira e, mesmo que precariamente, línguas africanas. No entanto, na distribuição imaginária delas para os falantes brasileiros ocorrem algumas sobreposições, das quais a principal é a da língua oficial com a língua nacional, e destas com a língua materna (GUIMARÃES, 2003). Assim, os jornais fronteiriços, ao usarem as línguas espanhola, guarani ou portuguesa para enunciar, fazem uma distribuição política dessas línguas como nacionais ou locais da fronteira, entre outras possibilidades.

Sturza (2006) sugere que a zona de fronteira do Prata constitui um espaço de enunciação particular em relação aos países que compõem a região, por ela denominado de “espaço de enunciação fronteiriço”. A autora pensa esse espaço com base na realidade da fronteira platina, mais especificamente, da fronteira Brasil-Uruguai, e o apresenta como constituído pelas línguas nacionais de cada país, o português e o espanhol e, ainda, pelas práticas linguísticas decorrentes do contato dessas línguas.