A língua, os museus e os espelhos


resumo resumo

Larissa Montagner Cervo



vozes que inscrevem sentidos de autoridade(zação) ao dizer. Em primeiro lugar, considerando que os museus são instituições cidadãs e que se assentam na máxima ‘para todos’, chama a atenção a possibilidade das diferentes leituras que podem ser feitas, tornando ou evidentes ou opacas as relações conflitantes entre as diferentes vozes significadas no discurso. É fato que predominam sentidos de língua e linguagem como o que comunica, transmite e expressa, mas essa sobredeterminação de sentidos não tem o poder de, por si só, apagar as condições de produção mesma em que cada um dos dizeres se inscreve e significa.

Em segundo lugar, apesar de as definições no plural remeterem à heterogeneidade própria ao discurso da ciência, a partir da qual se recorre ao outro para o estabelecimento de diálogo, a variança encaminha à dispersão. Nessas condições de produção em específico, em que o discurso de divulgação se coloca ao lado do discurso religioso e da determinação e onipotência de Deus, a dispersão pode significar também, além de algo inerente ao discursivo, como desentendimento e confusão, o que resultaria em um gesto de leitura da ciência das línguas e da linguagem e do sujeito da ciência como o próprio da confusão operada pela diversidade linguística dada como castigo aos homens. Nesse ínterim, em lugar de a obscuridade se fixar no próprio mito do qual ela faz parte, ela acabaria por significar no discurso daqueles que se constituem na posição de quem tem autoridade para produzir conhecimento, o que, de certo modo, os desautorizaria no gesto mesmo de divulgação de suas ideias. Trabalhar com um conjunto de explicações, nesse caso, seria um modo de expor a Linguística como uma ciência que apresenta hipóteses, e não teses e respostas definitivas, o que a colocaria em posição desfavorável em relação ao discurso religioso, cuja pretensão de transparência e clareza são trabalhados de modo a se sobrepor à obscuridade própria e inerente ao mito.

De um lado, o arquivo produz um efeito de verdade universal, sustentado pela voz única, totalizante e arbitrária de Deus, voz essa que ora cala, ora fala em diferentes pontos da exposição, como forma de significar as formas de acesso ao saber e ao próprio imaginário da palavra de Deus como aquilo que precisa ser internalizado para que seja evocado. De outro, na contramão do assujeitamento a Deus, várias vozes que significam em relações de tensão entre si e entre os efeitos de verdade dos quais se revestem para significar, o que traz à tona o equívoco próprio ao objeto mesmo da definição: nem língua nem linguagem podem ser tomados como conceitos totalizantes ou unificadores. Além disso, no caso da universalização, como a-históricos, dissociados da relação necessária que exercem com o sujeito e com o mundo, de tal modo que